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terça-feira, 7 de setembro de 2010

Como fazer uma reportagem superficial: Samu tem atrasos de até nove horas em atendimentos

/ On : terça-feira, setembro 07, 2010 - Contribua com o Transparência São Paulo; envie seu artigo ou sugestão para o email: transparenciasaopaulo@gmail.com
Deu no R7
publicado em 07/09/2010 às 12h11:



Samu tem atrasos de até nove horas em atendimentos

Após morte em fevereiro, ao menos outros 13 socorros demoraram mais de uma hora
Fernando Gazzaneo, do R7Após a morte, em fevereiro passado, do morador de rua Odair de Souza, que esperou 1 hora e 40 minutos pelo atendimento do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) de São Paulo, os socorros prestados continuaram apresentando atrasos entre abril e julho, conforme apuração do R7 que teve acesso a numerais de ordem, documentos que mostram o tempo exato de cada passo das equipes. Em ao menos 15 casos, a demora ultrapassou 40 minutos, chegando a até nove horas.

Em um dos casos, um paciente de 74 anos com parada cardiorrespiratória aguardou uma hora pela ambulância do Samu e morreu logo depois de chegar ao hospital. Nesse caso, a vítima deveria ter recebido atendimento em até 16 minutos, segundo determinação da Secretaria Municipal de Saúde, responsável pelo Samu.
Em nota, a pasta afirmou que “lamenta a morte do paciente e informa que foi aberta apuração preliminar para apurar todas as ocorrências citadas pela reportagem", ressaltando que o “serviço 192 realiza mais de 1.200 atendimentos por dia” na cidade.

A reportagem do R7 fez um levantamento com base em numerais de ordem do Samu e verificou que o atraso está, principalmente, na passagem do atendimento da central do Samu para as ambulâncias.
Nove horas de espera

O filho de Vitalina Tavanelli fez em 5 de maio um chamado ao Samu às 9h, que foi repassado para a base do Jabaquara às 17h43. Dois minutos depois, a ambulância saiu para socorrer a vítima que fraturou a bacia e chegou em cinco minutos à casa da família, às 18h10. Wilson Tavanelli conta que chegou a ligar três vezes para a central do Samu para cobrar o atendimento. Em uma delas, um funcionário orientou que ele encontrasse meios próprios para socorrer a mãe.


- Tive que deixar minha mãe no lugar onde ela estava, porque sabia que ela tinha quebrado alguma coisa. Ela é idosa e se queixava de dores na cabeça, onde sofreu um corte fundo, e na região do fêmur. Quando a ambulância chegou, o motorista ficou mais irritado do que eu. Ele não acreditou que minha mãe esperou nove horas para ser atendida.


Vitalina sentiu muita dor antes de ser socorrida e hoje se recupera na casa do filho, que deixou de trabalhar para cuidar da mãe. Já Francisco Odete Bento, de 74 anos, não sobreviveu a uma parada cardiorrespiratória e a quase uma hora de demora no atendimento.

No dia 22 de julho, um parente dele chamou o Samu para atender o paciente que “estava deitado na cama, inconsciente, cianótico [quando há baixa oxigenação do corpo], com parada cardiorrespiratória há pelo menos uma hora”, como informou a família ao serviço. O chamado foi feito às 16h09 e a transmissão só aconteceu cerca de 40 minutos depois. A ambulância chegou à casa de Bento às 17h e saiu de lá após quatro minutos. A reportagem do R7 apurou com um funcionário do serviço (que pediu para não ser identificado) que havia duas ambulâncias disponíveis na hora que o chamado foi feito para a central.

Por se tratar de um problema envolvendo coração e com alto risco de morte para o paciente, a ambulância enviada para socorrer Bento deveria contar com um médico acompanhando a equipe de socorristas. No entanto, as duas ambulâncias disponíveis na base do Jabaquara não contam com esse tipo de serviço, a chamada unidade de suporte avançado de saúde.
O funcionário conta que é frequente faltar materiais de socorro, como faixas, luvas descartáveis e fitas usadas nos desfibriladores (equipamento usados para fazer reanimação cardíaca). A secretaria não comentou a falta de equipamentos.

Morador de rua
Durante abril e junho passados, a reportagem encontrou ao menos 13 atendimentos  que demoraram mais de uma hora. Com dificuldades para respirar e inconsciente, a família de uma mulher de 77 anos pediu socorro às 14h29 em 14 de abril, mas a ambulância só recebeu o chamado às 15h26. No dia 18 do mesmo mês, uma vítima em parada cardiorrespiratória caída no banheiro de casa chamou o Samu às 18h57, mas a atendimento só aconteceu às 19h53. No dia 19, um chamado para socorrer uma mulher, de 33 anos, deitada no banheiro após uma convulsão foi feito às 8h40, mas a equipe de socorristas chegou cerca de uma hora depois.
Em pelo menos outras quatro situações, as vítimas foram levadas por familiares até o hospital depois que atendimento demorou até duas horas para acontecer.
Todos os casos foram relatados pelo R7 à coordenação do Samu, mas a Secretaria Municipal de Saúde não informou a classificação de prioridade de cada um deles tampouco explicou por que uma unidade de suporte avançado não foi enviada para socorrer o paciente com parada cardiorrespiratória no Jabaquara. Em entrevista em 24 de abril, Paulo Krom, coordenador do Samu na capital, explicou que as ocorrências que envolvem coração, cérebro e traumas devem ser consideradas de urgência pelas equipes por causa do risco de morte.

Segundo a Secretaria de Saúde, até agosto deste ano, o Samu “vem obtendo substancial avanço no que se refere aos tempos médios de atendimento. Todas as regiões da capital tiveram queda no tempo de atendimento dos níveis 1 e 2 (necessidade de socorro imediato em função do risco de vida e casos de necessidade de atendimento médico dentro de poucas horas, respectivamente). A média que era de 35 minutos em 2004, caiu para 16 minutos em 2010 no nível 1. Já o casos de nível 2 também tiveram queda expressiva. De 65 minutos, em 2004, para 46 minutos neste ano".

Em 24 de abril, o R7 publicou a reportagem sobre a morte do morador Odair de Souza por broncopneumonia após o socorro do Samu demorar 1h40. A vítima foi encontrada inconsciente, trancada em um banheiro do Arsenal da Esperança, no centro da capital, respirando com dificuldades e com o corpo sujo de fezes e urina. Ele apresentava sinais de agressão. O caso foi aconteceu em 27 de fevereiro.











A Secretaria de Saúde informou que abriu investigação interna para descobrir as causas e os responsáveis pelo atraso e o Ministério Publico Estadual deu início a um inquérito civil para apurar possíveis irregularidades no atendimento e na administração do Samu.





No inquérito, a promotora Ana Lúcia Vieira pediu para que a secretaria esclarecesse “em cinco dias a noticiada ineficiência do serviço do emergência”. Quatro meses depois, a “prefeitura apresentou alguns documentos que ainda estão sendo analisados e não é possível falar em resultados porque os fatos ainda estão sendo investigados”, informou a promotora por meio de nota. Ana Lucia ainda afirmou que uma reunião com o Samu está marcada para 13 de setembro.






O prazo inicial era que a investigação da secretaria fosse concluída em até um mês. Questionada sobre o tempo de apuração, a pasta respondeu apenas “que as providências estão sendo veiculadas no Diário Oficial da cidade”.






A morte foi registrada no 8º DP, no Brás. A polícia abriu inquérito para investigar as agressões ao morador de rua. Procurada pelo R7 nesta semana, o delegado José Aparecido Figueiredo disse apenas que "a investigação está em andamento” e que ele enviou o inquérito policial “ao fórum com pedido de prorrogação de prazo”.


Motolâncias



Até a publicação desta reportagem, a promotora Ana Lucia Vieira não foi encontrada para comentar os casos de atraso no atendimento do Samu. Mas como ela relatou em 30 de abril, a reestruturação do serviço de urgência, iniciada em 2005, é resultado de outro inquérito civil que fez com que o Samu tivesse uma central de atendimento e equipamentos com tecnologia de ponta.





- Exemplo disso são as motolâncias que carregam equipamentos super modernos para prestar o atendimento às vitimas. Um pequeno objeto redondo pode se transformar em um aparelho de eletrocardiograma [exame de coração], que consegue, em segundos, transmitir o diagnóstico para um médico avaliar.






Mas 80% das motocicletas que carregam equipamentos como o relatado pela promotora ainda estão fora das ruas. Das 80 ambulâncias capazes de prestar atendimento de socorro a vítimas (principalmente para vítimas com problemas no coração, cérebro e de fratura), apenas 16 delas estão nas ruas, o dobro se comparado a abril deste ano. O restante delas ainda está à espera de que profissionais do Samu sejam capacitados pela prefeitura e pela PRF (Polícia Rodoviária Federal). Apesar disso, a Secretaria de Saúde afirma que o Samu de São Paulo tem a maior frota de veículos de emergência do país.

O que a reportagem não informou (e o TSP complementa):

quarta-feira, 11 de agosto de 2010


São Paulo é o único Estado que não contribui com o SAMU/192

/ On : Quarta-feira, Agosto 11, 2010 - Contribua com o Transparência São Paulo; envie seu artigo ou sugestão para o email: transparenciasaopaulo@gmail.com

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) que atende o cidadão em sua casa, nas ruas e no local de trabalho não recebe um só centavo do governo tucano de São Paulo. Criado em 2003 pelo governo federal, as gestões Alckmin e Serra foram as únicas entre os estados brasileiros que não contribuíram com sua cota.

O financiamento do SAMU é tripartite: 50% vêm do governo federal, 25% do Estado e outros 25% do município. É esta participação dos três entes da federação que dá sustentabilidade ao programa e propicia sua ampliação. No caso de São Paulo, todo o atendimento do SAMU, inclusive as ambulâncias, é custeado unicamente pelo governo federal e municípios - são 91 municípios e 32 centrais.

Municípios reclamam

Ao não cumprir a sua parte nas despesas, a conta fica mais pesada para os municípios, que são obrigados a arcar com a parcela que deveria do Estado. Se o Estado contribuísse com a percentagem que foi pactuada, certamente a cobertura do SAMU seria muito maior em São Paulo.

Durante as audiências públicas, promovidas pela Assembleia Legislativa para discutir as audiências do Orçamento do Estado para 2011, muitos prefeitos e representantes das administrações municipais reclamaram da falta de compromisso do Estado para que as cidades possam assinar convênio para a implantação do SAMU com o governo federal. “Se o governo do Estado não der a sua parte, inviabiliza a implantação no SAMU”, salientou a coordenadora do Departamento de Saúde de Registro, Maria Cecília Della-Torre.

Atendimento SAMU

O SAMU alcança 106 milhões de brasileiros - Região Sul: 17.221.962; Nordeste: 26.179.381; Centro Oeste: 10.407.577;Sudeste: 45.371.427; Região Norte: 6.550.451.

O atendimento em casos de urgências é feito pela ligação telefônica gratuita, por meio do número 192.

*com informações da reportagem de Conceição Lemes

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