Relembre o caso da loja Daslu, em São Paulo
Publicada em 26/02/2010 às 23h01
O Globo
RIO – Com as araras repletas de vestidos, sapatos e bolsas das grifes mais badaladas do planeta, e com vendedoras da alta sociedade paulistana – até a filha do ex-governador Geraldo Alckmin dava expediente lá-, a Daslu viu seu nome saltar dos editoriais de moda das revistas para as páginas policiais. A mudança ocorreu em 2005, quando uma investigação da Polícia Federal revelou que as importações da megaloja de luxo eram todas fraudulentas. O esquema era simples: depois que mercadorias caríssimas eram compradas no exterior, empresas importadoras entravam em cena para falsificar documentos e faturas, subfaturando o valor dos produtos para desembaraço aduaneiro.
A fraude foi descoberta durante uma inspeção de rotina da Alfândega do Aeroporto de Guarulhos. Ao abrirem um contêiner de sapatos e bolsas da grife italiana Gucci, fiscais da Receita verificaram que a mercadoria não correspondia à descrição das guias de importação. Além disso, as faturas originais do fabricante, emitidas em nome da Daslu, estavam dentro do contêiner e apresentavam preços muito superiores aos descritos nas guias. Também foram encontrados produtos Marc Jacobs, que constavam nos documentos como sendo de uma grife mais em conta.
A partir disso, descobriu-se uma rede de empresas-fantasma – dez delas sediadas no Brasil e pelo menos uma no exterior – que atuavam como intermediárias, emitindo notas falsas com valores subfaturados, o que acarretava no pagamento de impostos mais baixos ( de Importação, IPI, PIS/COFINS e ICMS).
Quando a Operação Narciso foi deflagrada, Eliana Tranchesi, dona da Daslu, foi presa com seu irmão, Antônio Carlos Piva de Albuquerque, sócio da loja. Ela ficou dez horas na sede da PF em São Paulo e negou saber como eram feitas as importações. Disse que apenas “cuidava do glamour”. Seu irmão e Celso de Lima, contador da Daslu, ficaram detidos alguns dias. No ano passado, Eliana foi condenada, em primeira instância, a 94 anos e seis meses de prisão pelos crimes de descaminho (contrabando), formação de quadrilha e falsidade ideológica. Além de Eliana, a juíza Maria Isabel do Prado, da 2ª Vara Federal de Guarulhos, condenou o irmão dela, e mais seis empresários, todos ligados a firmas de importação.
Graças a um habeas-corpus, Eliana aguarda em liberdade por um julgamento de recurso.