(do Transparência SP)
Apagão no transporte público em São Paulo
Está cada vez mais difícil defender a qualidade do sistema de metrô e trens em São Paulo. Primeiro foi a superlotação, depois as panes frequentes, agora os acidentes com feridos.
A cada dia que passa os problemas aumentam de tamanho.
É o preço do "Ajuste Fiscal Permanente" patrocinado pelos governo tucanos, principalmente nos anos 90, com aumento de receitas, "cortes" nos investimentos e privatização do Estado.
A fórmula tem sido explosiva: mais de 20 anos de quase paralisia nos investimentos em infraestrutura, misturado com 10 anos de crescimento da economia, do emprego e da renda de forma quase ininterrupta, tem como resultado o "caos" na mobilidade urbana e interurbana. A retomada dos investimentos nos últimos 5 anos não tem sido suficiente para suprir as deficiências acumuladas. Basta lembrar que a última linha estruturante do Metrô inaugurada antes da linha 4 - Amarela (entregue parcialmente no final de 2011), foi a Linha 2 - Verde, ainda no início dos anos 90, na gestão Quércia.
Procurando muito, encontramos um artigo na grande imprensa que analisa de forma mais profunda o tema. Baseando-se na própria reportagem, se uma linha leva 8 anos para ser feita, então a cidade deveria ter, pelo menos, 7 linhas de metrô.
Por que trens e metrô de São Paulo têm tido tantos problemas?
A lotação só aumenta. O processo de melhoria da rede, que tem trechos do século 19 na CPTM, é lento. Os trabalhos de modernização precisam ser feitos sem interromper o serviço
A batida de dois trens da Linha 3-Vermelha do Metrô, que levou 113 pessoas ao
hospital na quarta-feira, é considerada "raríssima" por especialistas em
transporte, tanto que foi o primeiro problema do tipo nos 38 anos de história da
Companhia do Metropolitano de São Paulo.
N. Rodrigues/AE
Colisão entre trens na estação Carrão da
Linha 3-Vermelha deixou dezenas de feridos.
Mas panes seguidas na rede metroferroviária têm exigido, nos últimos meses,
paciência extra dos passageiros, que já precisam de calma para enfrentar a
lotação diária nos vagões. Por mais de 80 vezes neste ano, a operação do metrô
nos horários de pico teve de ocorrer em velocidade reduzida - o problema se
repetiu às 7h40 de ontem (19 de maio) na Linha 1-Azul. Já na Companhia Paulista de Trens
Metropolitanos (CPTM) foram mais de 50 falhas - algumas culminaram em casos de
vandalismo.
A Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos, responsável por Metrô
e CPTM, responde às críticas sobre excesso de falhas com números de ampliação de
investimentos - que, é verdade, nunca foram tão altos. A promessa é que só neste
ano sejam investidos quase R$ 5 bilhões - de compra de trens e construção de
linhas a reformas. Mas, como até agora quem usa o transporte diariamente não viu
esse recurso se transformar em viagens mais cômodas e tranquilas, o Estado
procurou novamente especialistas e governo para entender por que os trens têm
dado tantos problemas.
1. Lotação. A origem das falhas é o excesso de gente
buscando um serviço incapaz de atender todo mundo com conforto. Em 2011, o Metrô
carregou uma média de 2,7 milhões de pessoas por dia e a CPTM, 2,3 milhões.
"Bilhete único, economia aquecida, desemprego baixo. Os fatores para explicar a
lotação já são conhecidos", diz o professor Telmo Giolito Porto, do Departamento
de Engenharia de Trânsito da USP. Foram colocados mais trens para circular nas
linhas existentes. Segundo o governo, de 2010 para cá, foram 33 para o Metrô e
72 para a CPTM. Só que isso trouxe novos problemas.
2. Pouca energia. Os sistemas instalados nas linhas já
existentes passaram a ser usados por mais trens. E a fonte de energia do
transporte, a eletricidade, passou a ser compartilhada por mais composições.
"Puxa-se mais energia", explica o professor de Engenharia de Transportes da FEI
Creso de Franco Peixoto. "Mas tem linhas que não estão dando conta", completa o
consultor Horácio Augusto Figueira. A sobrecarga facilita a ocorrência de falhas
elétricas, o que está acontecendo principalmente na Linha 9-Esmeralda da
CPTM.
3. Idade. A falta de sintonia entre trens e sistemas fica
mais grave porque a CPTM usa um leito ferroviário que tem mais de 100 anos de
idade - parte é do século 19 -, diferentemente do Metrô. Por isso, grande parte
dos investimentos nas linhas já existentes é canalizada para troca de
transformadores elétricos, rede de transmissão de energia, postes e até
dormentes dos trilhos. São investimentos, no entanto, que só começaram a ser
feitos intensamente em 2008.
4. Pouco tempo para reformas. "O tempo útil que eles (CPTM)
têm para fazer obras é de apenas 2h diárias", diz o professor Telmo Porto. Isso
porque os trens funcionam das 4h à meia-noite todo dia. "Até entrar na via e
sair, são 2h perdidas por dia." Esse entra e sai diário também pode facilitar a
ocorrência de panes durante a operação, segundo especialistas. É que uma série
de sistemas precisa ser ligada e desligada a cada serviço simples, como troca de
um poste. Na terça-feira, a CPTM admitiu essa possibilidade ao justificar mais
uma pane na Linha 9-Esmeralda.
5. Atrasos em obras. O pouco tempo para executar obras de
melhoria arrasta o fim dos serviços e, assim, prolonga o problema. Dos 11
contratos de manutenção assinados pela CPTM desde 2008, 8 tiveram de ser
prorrogados. Segundo a companhia, por falta de tempo. "A maior dificuldade na
realização dos serviços de modernização nas seis linhas está diretamente
associada aos limites impostos pela operação de transporte", afirmou a CPTM,
garantindo que todos os contratos estão com pelo menos 70% das obras
concluídas.
6. Rede pequena. É o problema mais difícil: uma linha de
metrô ou trem leva, em média, oito anos para ficar pronta. O tamanho da rede
metro-ferroviária também potencializa panes. Se um trecho está parado, há poucos
pontos de baldeação para que usuários mudem de trajeto e evitem passar pela
linha com falha, como ocorre em outras cidades do mundo. "E a rede de ônibus tem
velocidade média de 15 km/h. É como se estivesse em constante pane", diz o
consultor Horário Figueira.