31/05/2010
A costureira Ângela Siqueira trabalha no Bom Retiro, bairro que concentra confecções, no centro velho de São Paulo, e mora em Itaquera, no extremo leste da cidade, onde fica uma das estações terminais da linha leste-oeste do metrô da capital paulista. Para estar no trabalho sem atropelo, todo dia, às 7h30min, Ângela costumava sair de casa às 6 horas. Mas já não faz mais isso: “Não adianta. Se chego às 6 horas na estação Itaquera, não consigo nem entrar, tem fila na rua. Tenho chegado à estação às 5 horas, no máximo 5h30min, quando a gente ainda consegue chegar à escada rolante (de acesso às plataformas)”, contou.
Nos trens, a situação tende a ser ainda pior. São 2,1 milhões de passageiros por dia e entre eles a maior queixa é contra o que chamam de “rotina de humilhações”. Para todos, o desafio é se equilibrar em vagões superlotados, praticamente sem ter em que se segurar. É o tipo de esforço que faz qualquer um chegar estressado ao trabalho. Entre as mulheres, a maior queixa é contra os homens que usam a superlotação como pretexto para um contato físico indesejado. No papel, há vagões especiais para mulheres. Mas não na vida real: a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) alega que a medida agravaria ainda mais os problemas nos horários de pico.
Tanto no caso dos trens quando do metrô, a resposta do governo de São Paulo é a mesma: Plano de Expansão. Iniciado em 2007, embora a propaganda na TV tenha aumentado espantosamente em 2010, o plano tem como metas aumentar a malha do metrô de 61 para 80 km e modernizar 160 km da rede da CPTM. Os investimentos previstos até 2014 são de R$ 21 bilhões. A entidade Comunidade de Metrôs, que reúne os 11 principais sistemas do planeta, aponta o metrô de São Paulo como o mais lotado do mundo. Nos horários de pico, chega a transportar 8,6 passageiros por metro quadrado, quando o recomendável são seis passageiros. O fato é que, apesar de toda a propaganda em torno da expansão da rede, o metrô de São Paulo, seja com 60 ou 80 km, ainda deixa muito a desejar. Se é injusta a comparação com Nova York (479 km), não o é com Santiago. O metrô da capital chilena, com menos de 6 milhões de habitantes, contra 11 milhões de São Paulo, tem 82 km de extensão.
Por enquanto, o que se vê são paliativos. O metrô está ampliando esta semana o número de vagões à noite diante das reclamações de estudantes que vinham encontrando estações lotadas ao sair das aulas, por volta de 23 horas. No caso dos trens, a CPTM criou o programa “Embarque Melhor”, no qual funcionários tentam fazer caber nos vagões uma multidão que sequer consegue embarcar, diante do tumulto generalizado que é o desembarque entre 17h e 20h. Por isso, é comum encontrar no site da CPTM reclamações como a do usuário Cláudio Benvindo de Medeiros Júnior: “Somos seres humanos, não animais”.