(do Transparência SP)
Esta reportagem do insuspeito 'O Estado de SP' é das mais esclarecedoras. As apurações indicam claramente o esquema do propinoduto tucano em SP.
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Ai6 Metrópole QUARTA-FEIRA, 7 DE AGOSTO DE
2013
O ESTADO DE S. PAULO
Propina da Siemens foi de € 8 mi no País
Justiça de Munique diz que 2 representantes de
funcionários públicos brasileiros receberam dinheiro no primeiro mandato de
Alckmin
Bruno Ribeiro Jamil Chade Marcelo Godoy
A Justiça alemã concluiu que a Siemens pagou pelo menos €
8 milhões, o equivalente a R$ 24,4 milhões, a dois representantes de
funcionários públicos brasileiros, como parte de um amplo esquema de
corrupção em contratos públicos no Brasil.
Os dados fazem parte da investigação conduzida por promotores
em Munique e que resultou na condenação, em 2010, da empresa alemã ao pagamento
de uma multa bilionária. O caso brasileiro, segundo a Justiça alemã, ajudou a
comprovar o esquema internacional de corrupção da multinacional.
O Estado teve acesso a documentos que a Siemens apresentou à
Justiça no Brasil, e eles mostram a ação de dois consultores para a manutenção
do cartel e a fraude contra os cofres do governo de São Paulo entre 200i e
2002, durante o primeiro mandato de Geraldo Alckmin (PSDB). Trata-se dos irmãos
Arthur e Sérgio Teixeira - este já morto. O Estado procurou Arthur. Em seu
escritório em São Paulo, uma secretária informou que ele estava viajando. A
Siemens reafirmou ontem que colabora com as investigações do caso.
Eles eram proprietários das empresas Procint e
Constech. Em setembro de 2001, Everton Rheinheimer assumiu a direção da divisão
de transportes da Siemens. Na época, estava em andamento alicitação para
arefor-ma dos trens S2000, S2i00 e S3000 da Companhia Paulista de Trens
Metropolitanos (CPTM). Em reunião na sede da Alstom com as demais empresas
acusadas de compor o cartel, Rheinheimer, desconfiando que queriam passar a
Siemens para trás, afirmou que a alemã não dividiria a licitação S3000. Disse,
então, que faria uma proposta competitiva para ganhar o contrato de R$ 55 milhões
(valor atualizado).
Dias antes da entrega para o governo das propostas para
os projetos S3000 e S2i00, o executivo disse que foi procurado pelos
consultores. Queriam que ele se encontrasse com as outras empresas - o que ocorreu.
Só um representante de cada empresa - Siemens, Alstom, CAF, Bombardier, Mitsui
e Temoinsa - participou.
Na reunião ficou acertado que a Siemens venceria a
licitação S3000. "As outras empresas competidoras apresentariam preços
superiores à proposta das Siemens e bastante próximas do orçamento da CPTM,
como propostas de cobertura", escreveu Carlos Em-manuel Joppert Ragazzo,
supe-rintendente-geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade),
do Ministério da Justiça, em documento sobre a denúncia apresentada pela
Siemens. Em troca, as demais dividiriam a S2i00 da CPTM.
Arthur e Sérgio Teixeira são suspeitos de serem
aligação entre as empresas do suposto cartel e os diretores do Metrô e da
CPTM. As empresas dos consultores foram apontadas em denúncia apresentada por
deputados do PT em 2009 ao Ministério Público Estadual (MPE) como o elo entre
o cartel e empresas offshore no Uruguai.
Uruguai. Os promotores desconfiam de que o pagamento de propinas a agentes públicos era feito naquele país por
meio de offshores: a Leraway e a Gantown. Na investigação da
Justiça alemã sobre a Siemens, a procuradora alemã, Hildegard Baeumler-Hoesl, constatou que
o dinheiro enviado ao Brasil entrava no País por meio de contas abertas no
Uruguai. Em Montevidéu, consultorias recebiam o dinheiro da Siemens, antes
de transferir os recursos para as contas dos brasileiros.
A prática, segundo a investigação, segue um padrão
mundial de pagamento de propina pela Siemens. Uma consultoria emite notas por
um suposto trabalho e a Siemens paga. O problema é que esse trabalho não existia,
e o dinheiro dessas consultorias seguiaparaobolso de agentes públicos ou
lobistas.
O Tribunal de Munique não revelou os nomes dos brasileiros
acusados. No total, a Siemens pagou US$ 1,3 bilhão em subornos no mundo. O
caso envolveu mais de 300 agentes públicos e 4,2 mil transações suspeitas na
Argentina, Bangladesh, Brasil, China, Grécia, Hungria, Indonésia, Israel, Itália,
Malásia, Nigéria, Noruega, Polônia, Rússia e Vietnã. A Siemens pagou nos EUA
multa de US$ 800 milhões e na Alemanha, de US$ 533,6 milhões.
Recurso
judicial impede MP de obter dados da Suíça
• Promotores públicos de São Paulo da força-tarefa
montada para investigar os contratos do Metrô e da CPTM disseram ontem que um
recurso judicial deve atrasar o acesso a uma investigação, conduzida na Suíça,
que também revela pagamento de propina a autoridades paulistas, desta vez
feita pela multinacional Als-tom. Segundo o MPE, esse recurso foi aceito no
último dia 24. Os promotores não revelaram o autor do instrumento judicial.
Apesar de a investigação desse caso ser mais antiga, de 1997, os promotores
esperam que as informações possam ajudá-los nas investigações reabertas por
causa da delação feita pela Siemens.
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