(do Transparência SP)
A hegemonia tucana no Estado de SP tem um preço alto. Uma das medidas, sem dúvida, é o gasto feito em publicidade nos últimos dez anos. Quase R$ 2,5 bilhões. O valor daria para construir mais da metade da linha 5 do Metrô.
As empresas estatais (Metrô, Sabesp, Dersa, CDHU), que mais deveriam investir, foram as que mais gastaram com publicidade.
Enquanto isso, o rio Tietê continua poluído, o déficit habitacional no Estado continua gigantesco e o transporte metropolitano continua de péssima qualidade.
Agora entende-se porque ao invés de termos uma análise crítica constante da grande mídia, vemos muito apoio à falência da segurança pública, da educação, da saúde e da mobilidade metropolitana no Estado mais rico da nação.
Estatais paulistas respondem por metade dos gastos do governo com propaganda
Em dez anos de governo Alckmin e Serra, administração direta e empresas
desembolsaram R$ 2,44 bilhões, com participação cada vez maior das
companhias
(por Fernando Gallo, de O Estado de S. Paulo)
As empresas estatais paulistas responderam por metade dos gastos com
propaganda do governo do Estado na última década. Levantamento feito pelo Estado
via Lei de Acesso à Informação mostra que, enquanto a administração direta
desembolsou R$ 1,2 bilhão entre 2003 e 2012, as cinco principais estatais de São
Paulo pagaram R$ 1,24 bilhão - os valores estão atualizados pela inflação.
Os gastos da administração direta, que inclui o gabinete do governador e as
secretarias de Estado, são conhecidos - é possível acessá-los pelo sistema de
execução do orçamento do Estado. Já as despesas das empresas nunca tinham sido
tornadas públicas de maneira ampla e sistematizada.
Somados, os gastos com publicidade do governo paulista nesses dez anos
somaram, portanto, R$ 2,44 bilhões. No período, o Estado foi governado por
Geraldo Alckmin e José Serra, ambos do PSDB.
Com o valor gasto em propaganda, seria possível construir, por exemplo, mais
de metade da segunda fase da linha 5 do metrô, que vai ligar o Largo Treze à
Chácara Klabin, ou custear o Instituto do Câncer por sete anos. O valor gasto
com publicidade também equivale a 33 vezes o orçamento da Secretaria dos
Direitos da Pessoa com Deficiência.
A lógica dos desembolsos se inverteu há quatro anos, quando as empresas
passaram a gastar mais do que a administração direta. Entre 2003 e 2008, as
estatais gastaram uma média de R$ 57,6 milhões por ano, ao passo que as
secretarias do governo gastaram uma média de R$ 82,6 milhões anuais. De 2009 a
2012, as empresas desembolsaram um total de R$ 900 milhões, média de R$ 225
milhões ao ano, enquanto a administração direta pagou R$ 710 milhões - média de
R$ 117,5 milhões.
Pico de gastos. Os dados obtidos mostram que o pico dos
gastos das estatais Sabesp, Metrô, CPTM, CDHU e Dersa ocorreu em 2009, quando
elas gastaram um total de R$ 340,6 milhões. O valor é quase igual aos R$ 345,9
milhões que as cinco estatais gastaram em todos os seis anos anteriores, no
período 2003-2008 - em 2008, por exemplo, elas despenderam R$ 110 milhões; em
2007, R$ 48 milhões.
Em 2010, o gasto diminuiria para R$ 258 milhões, ainda assim o segundo maior
do decênio. Em 2011 e 2012, já na gestão Geraldo Alckmin (PSDB), ficaria na casa
dos R$ 150 milhões por ano.
Em 2009, quando o PSDB articulava a candidatura do então governador Serra a
presidente da República, o Metrô e a CPTM fizeram fortes campanhas de marketing
sobre a expansão de linhas e a compra de novos trens. A Dersa investiu na
publicidade do Rodoanel e da Nova Marginal. A Sabesp criou campanhas sobre o
projeto Tietê e o uso responsável da água e a CDHU gastou em publicidade com o
Programa Serra do Mar, com a reformulação dos padrões de seus imóveis e com o
Programa Cidade Legal, para promover a regularização de imóveis.
O gasto do Metrô com publicidade saltou de R$ 11,5 milhões em 2008 para R$ 71
milhões em 2009, elevação de 517%. A Dersa, que gastou R$ 2,7 milhões em 2008,
elevou o dispêndio para R$ 63,4 milhão em 2009 - 2.248% a mais. A CPTM passou de
R$ 4 milhões para R$ 55,7 milhões nos mesmos anos, um incremento de 1.292%.
Recorde com Serra. O governo Serra foi aquele em que as
cinco estatais mais gastaram com publicidade, com valor total de R$ 756 milhões
- média de R$ 189 milhões por ano. No segundo governo Alckmin, entre 2003 e
2006, elas gastaram R$ 188 milhões, ou R$ 47 milhões anuais.
No atual governo Alckmin, as empresas se tornaram mais gastadoras que na sua
primeira passagem pelo Palácio dos Bandeirantes. Em 2011 e 2012, desembolsaram
R$ 300 milhões, média de R$ 150 milhões por ano, embora Alckmin tenha rebaixado
a secretaria de Comunicação ao status de subsecretaria, subordinada à Casa
Civil, como uma sinalização de que o governo seria mais austero.
Das estatais, a Sabesp é a que mais contratou publicidade: foram R$ 557
milhões em dez anos. Em seguida vem a CDHU, com R$ 216 milhões, e o Metrô, com
R$ 198 milhões. A Dersa destinou a esse fim R$ 138 milhões e a CPTM, R$ 135
milhões.
No caso da administração direta, o pico de gastos também se deu em 2009, com
Serra, quando os desembolsos somaram R$ 246,7 milhões. O segundo ano com mais
investimento em publicidade foi o de 2010, com R$ 217 milhões. No atual governo
Alckmin, os gastos ficaram na casa dos R$ 125 milhões entre 2011 e 2012.