Leandro Fortes
É praticamente impossível, dadas as quantidades envolvidas, listar todas as ações da mídia brasileira voltadas para escamotear, manipular ou simplesmente mentir diante de uma realidade sobre a qual perdeu o controle quando, em 2002, o ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva se elegeu presidente da República. Arregimentada às pressas para assumir o papel de oposição no lugar de um combalido Exército de Brancaleone perfilado em torno do PSDB, a imprensa nativa passou a se dedicar à diuturna tarefa de tentar esconder do mundo, e principalmente dela mesma, as mudanças sociais resultantes da inflexão política decorrente da eleição de Lula e da chegada do PT ao poder.
Primeiro, tentou neutralizar o potencial das políticas de distribuição de renda e voltou todas as suas baterias contra o Bolsa Família, programa social que tirou 20 milhões de brasileiros da linha da miséria. O Brasil dos rincões e das periferias, mesmo longe do noticiário, tornou-se um poder fundamental para a reeleição de Lula em 2006, apesar do escândalo do chamado “mensalão”, samba de uma nota só entoado pela mídia para tentar apear o presidente petista do Palácio do Planalto e entronizar o tucano Geraldo Alckmin. Na campanha eleitoral de 2010, foi a vez de aFolha de S.Paulo emplacar, na primeira página, uma ficha policial falsa da então candidata Dilma Rousseff. A intenção era fixar no imaginário do eleitorado a figura da guerrilha fria e cruel, assassina a soldo do comunismo ateu.
Alheios à irrelevância desse tipo de estratégia ante o poder da internet, os conglomerados de comunicação sob o comando de meia dúzia de famílias entregaram-se, assim, a uma guerra sem trégua contra o bom senso e a razão até chegar, na semana passada, ao paroxismo de um surto psicótico de fundo golpista. Por conta disso, desde a sexta-feira 9, jornalistas das maiores e mais conhecidas redações brasileiras passaram a se dedicar à tarefa inglória de brigar com fatos. Sem aviso prévio nem estratégias de salvaguarda, os principais grupos privados de mídia do País foram atropelados pelo best seller A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr., uma espécie de guia geral de tramoias e banditismo de Estado a envolver o ex-governador de São Paulo José Serra, além de amigos, sócios e parentes do tucano por ocasião do processo de privatização de estatais, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, entre 1998 e 2002.
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