Versão da Rota é uma farsa, diz família
Mãe e viúva de homem apontado como autor de atentado acreditam que ele pode ter sido morto em outro local
Em relatório, Polícia Civil suspeita que ataque seria tentativa de desviar foco de investigação contra PMs
ROGÉRIO PAGNAN
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
A família do ex-detento Frank Ligieri Sons, morto em um suposto atentado contra a sede da Rota (tropa de elite da PM) em 2010, diz não ter dúvida de que a versão da polícia para explicar as circunstâncias da morte é uma farsa.
Diante de novas informações que reforçam essa suspeita, mãe e viúva querem processar o Estado.
Conforme a Folha revelou na semana passada, relatório sigiloso da Inteligência da Polícia Civil coloca em xeque a versão oficial apresentada.
Ela é apontada como um possível engodo dos PMs envolvidos com o crime.
O documento, em um trecho, diz: "Possivelmente, o atentado contra a mencionada sede miliciana seria para tirar o foco de práticas ilícitas envolvendo integrantes da Rota e martirizar os envolvidos".
Essa tese é sustentada no documento por alguns supostos crimes praticados por PMs e, ainda, por possíveis inconsistências da versão oficial.
Entre elas: o desparecimento do coquetel molotov (que Sons estaria carregando), a falta de exames para apurar uso de arma (residuográfico) e a versão da Rota sobre a inexistência de câmeras para fornecer imagens da ação (o relatório diz haver duas).
A viúva, Ana Paula Sons, e a mãe de Sons, Vera Lúcia Ligieri, apresentam outras possíveis inconsistências.
Uma delas é não terem encontrado marcas de sangue no local onde Sons teria sido baleado. "Nós andamos em volta de todo o quarteirão da Rota, procurando, e não encontramos nada", diz a viúva.
"Eu tenho certeza de que ele não foi morto ali [ao lado da Rota]. Foi desovado lá. Meu coração de mãe diz isso", afirmou Vera Lúcia.
Elas dizem que Sons "morria de medo" de polícia, principalmente quando estava sob o efeito de drogas (tratava-se do vício em cocaína).
Quando usava droga, diz Ana Paula, ficava a noite toda olhando pela janela de casa, temendo a presença de policiais, e debaixo dos móveis, com medo de animais.
"Drogado, ele jamais teria coragem de fazer um atentado. De cara limpa, muito menos. Eu vivi 17 anos com ele e sei que ele não fez aquilo."
A família traz outras questões sobre a versão policial: 1) Sons não tinha dinheiro para comprar uma arma; 2) nunca andava acompanhado [policiais dizem que estava com um comparsa, que fugiu]; 3) não tinha dívida com o tráfico que pudesse levá-lo a cometer esse "suicídio".
"E ele queria muito viver", afirma a viúva.
Continuam: 4) ouviram no hospital que a roupa de Sons havia sido incinerada; 5) ouviram da polícia que o exame não detectara pólvora na mão de Sons [o relatório diz não ter sido requisitado]; e 6) ouviram de um delegado que Sons foi baleado com um tiro de fuzil nas costas [os PMs dizem que usavam revólveres e que ele foi alvejado no tórax e abdômen].
Diante de novas informações que reforçam essa suspeita, mãe e viúva querem processar o Estado.
Conforme a Folha revelou na semana passada, relatório sigiloso da Inteligência da Polícia Civil coloca em xeque a versão oficial apresentada.
Ela é apontada como um possível engodo dos PMs envolvidos com o crime.
O documento, em um trecho, diz: "Possivelmente, o atentado contra a mencionada sede miliciana seria para tirar o foco de práticas ilícitas envolvendo integrantes da Rota e martirizar os envolvidos".
Essa tese é sustentada no documento por alguns supostos crimes praticados por PMs e, ainda, por possíveis inconsistências da versão oficial.
Entre elas: o desparecimento do coquetel molotov (que Sons estaria carregando), a falta de exames para apurar uso de arma (residuográfico) e a versão da Rota sobre a inexistência de câmeras para fornecer imagens da ação (o relatório diz haver duas).
A viúva, Ana Paula Sons, e a mãe de Sons, Vera Lúcia Ligieri, apresentam outras possíveis inconsistências.
Uma delas é não terem encontrado marcas de sangue no local onde Sons teria sido baleado. "Nós andamos em volta de todo o quarteirão da Rota, procurando, e não encontramos nada", diz a viúva.
"Eu tenho certeza de que ele não foi morto ali [ao lado da Rota]. Foi desovado lá. Meu coração de mãe diz isso", afirmou Vera Lúcia.
Elas dizem que Sons "morria de medo" de polícia, principalmente quando estava sob o efeito de drogas (tratava-se do vício em cocaína).
Quando usava droga, diz Ana Paula, ficava a noite toda olhando pela janela de casa, temendo a presença de policiais, e debaixo dos móveis, com medo de animais.
"Drogado, ele jamais teria coragem de fazer um atentado. De cara limpa, muito menos. Eu vivi 17 anos com ele e sei que ele não fez aquilo."
A família traz outras questões sobre a versão policial: 1) Sons não tinha dinheiro para comprar uma arma; 2) nunca andava acompanhado [policiais dizem que estava com um comparsa, que fugiu]; 3) não tinha dívida com o tráfico que pudesse levá-lo a cometer esse "suicídio".
"E ele queria muito viver", afirma a viúva.
Continuam: 4) ouviram no hospital que a roupa de Sons havia sido incinerada; 5) ouviram da polícia que o exame não detectara pólvora na mão de Sons [o relatório diz não ter sido requisitado]; e 6) ouviram de um delegado que Sons foi baleado com um tiro de fuzil nas costas [os PMs dizem que usavam revólveres e que ele foi alvejado no tórax e abdômen].
OUTRO LADO
PM diz que será rigorosa na apuração do caso
DE SÃO PAULO
O comando da PM-SP diz que solicitou à Polícia Civil o relatório da Inteligência para apurar as irregularidades apontadas nele.
Diz que, por ora, não fará comentário sobre informações passadas pela Folha. Adianta que, havendo qualquer irregularidade, será implacável contra desvios de conduta, assim como será rigorosa nas apurações.
A Folha tentou contato com o delegado Eder Pereira da Silva, responsável pela investigação, mas não teve resposta. Na semana passada, a Secretaria da Segurança Pública informou que o caso estava sob investigação.
Anteontem, o governador Geraldo Alckmin disse que as corregedorias das polícias são fortes. "Se há algum indício, precisa ser apurado. Vamos verificar com cautela, apurar direitinho, para ter as informações corretas", disse.
Diz que, por ora, não fará comentário sobre informações passadas pela Folha. Adianta que, havendo qualquer irregularidade, será implacável contra desvios de conduta, assim como será rigorosa nas apurações.
A Folha tentou contato com o delegado Eder Pereira da Silva, responsável pela investigação, mas não teve resposta. Na semana passada, a Secretaria da Segurança Pública informou que o caso estava sob investigação.
Anteontem, o governador Geraldo Alckmin disse que as corregedorias das polícias são fortes. "Se há algum indício, precisa ser apurado. Vamos verificar com cautela, apurar direitinho, para ter as informações corretas", disse.