Passado quase um mês do tão alardeado reajuste salarial para os professores do Estado, o governador Geraldo Alckmin ainda não enviou à Assembleia Legislativa projeto de lei para fazer valer tal reajuste.
“O governador só quis fazer marketing divulgando à imprensa um reajuste que, na prática, não repõe nem um terço das perdas dos professores e, agora, de fato, podemos constatar seu descaso com os profissionais da Educação, porque ainda nem encaminhou o projeto de lei para ser apreciado pela Assembleia Legislativa, como prevê a lei”, afirma o deputado Enio Tatto, líder da Bancada do PT.
O reajuste anunciado pelo governador Alckmin cobre apenas um terço das perdas salariais dos professores no Estado de São Paulo, entre 1998 e 2010, e será parcelado em quatro anos – 2011, 2012, 2013 e 2014. Daqui a quatro anos, o reajuste, descontada a inflação, dará um ganho real de cerca de 13%, segundo cálculos da Assessoria Técnica da Bancada do PT. Em contrapartida, as perdas dos professores alcançaram 36,75% de 1998 a 2010.
Descaso também com profissionais das ETECs e FATECs
Descaso também com profissionais das ETECs e FATECs
Além do descaso com o reajuste, o governo Alckmin também não faz uma negociação que reponha, minimamente, as perdas salariais dos professores e funcionários das escolas e faculdades técnicas do Estado (ETECs e FATECs), que estão em greve desde o último dia 13.
O sindicato do categoria (Sinteps) denuncia que os salários dos professores das escolas técnicas do Estado são os menores do país - o vale refeição é de apenas R$ 4,00 por dia, e já acumulam um perda salarial de 58%. No entanto, o governo Alckmin ofereceu, a partir de julho, o reajuste de apenas 11%.
Professor em greve denuncia maquiagem tucana
Leia abaixo desabafo de um professor de ETEC.
Professor em greve denuncia maquiagem tucana
Leia abaixo desabafo de um professor de ETEC.
“Sou professor do Centro Paula Souza (Autarquia do Governo de SP).
Estamos em greve há quase um mês por conta do arrocho salarial ocorrido nos governos do PSDB em SP.
Existem vários motivos para justificar essa greve, mas o objetivo desse contato é tentar apagar esse silêncio da imprensa paulista em relação a este movimento e às Etec’s [Escola Técnica Estadual] de maneira geral.
As propagandas das Etec’s durante esse período de greve foram tiradas do ar, para que a menina dos olhos do governo de SP não fosse maculada com esse movimento. Ao mesmo tempo, inaugurações de escolas deixaram de acontecer, também por conta disso.
O Estadão há algum tempo publicou matérias relatando greve de professores em todo o país e não citou uma linha sobre a greve em SP. Ontem o Jornal Nacional falou de greve de professores no Nordeste e nada daqui de SP. Passam a sensação de que aqui não acontecem greves e que tudo é lindo, como na propaganda.
Um dia antes do movimento acontecer, o governo anunciou um aumento de 11%, que não cobre a inflação de 6 anos sem reajustes e que, na prática, corresponde a um aumento de R$10,00 para R$11,10 na hora-aula no CEETEPS [Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza], já que nós não trabalhamos em jornada, e sim por hora-aula, como o governador tentou esconder.
Seria uma vergonha para ele, Geraldo, anunciar depois de 6 anos um aumento de R$1,10.
O nosso vale-refeição é de R$4,00. O que não paga nem o lanche nas cantinas das Etec’s.
Além de todos esses problemas, tentamos desenvolver um bom trabalho, mas enfrentamos problemas graves de infraestrutura. Escolas com cursos de informática que não possuem computadores e internet, além de problemas com segurança e falta de profissional para lecionar.
Houve a expansão do ensino técnico em SP todo vinculado a “escola-extensões”. Como funciona isso: escolas ociosas no horário noturno são usadas para cursos que não demandem uma aplicação efetiva de recursos em laboratórios de tecnologia.
Basta ter professores que o curso acontece, não existem laboratórios de informática em alguns casos.
Desta forma, o plano de expansão das Etec’s matriculou significativamente mais alunos que nos anos anteriores, mas a evasão nestes cursos, por conta da ausência de professores — e de infraestrutura também — é altíssima. Essa é uma preocupação do CEETEPS, já apresentada em documentos internos.
Para comparação, um professor de Etec em inicio de carreira é remunerado com R$10,00, enquanto um professor do SENAI tem remuneração de R$20,00 a R$25,00, dependendo do curso oferecido.
Enfim, gostaria muito de saber como o Centro Paula Souza vai contratar os professores de audiovisual para a Etec Roberto Marinho, aquela do lado da Globo, pagando R$10,00 a hora-aula, já que o próximo vestibulinho para o curso já está em andamento, para turmas que terão início em julho. A não ser que a Globo ofereça esses professores…
Estamos com déficit de professores em várias áreas e peço que visite várias Etec’s para constatar o que digo.
Em alguns cursos, podemos afirmar que, por conta desses problemas, uma escola de tecnologia está defasada tecnologicamente, uma vez que nós professores, com essa remuneração e esquecidos pelo governo do estado, não temos condições de nos atualizarmos e oferecermos a nossos alunos o que há de ponta em tecnologia.
Professor para esse governo, só para fazer propaganda, o que não faltou no início deste ano e na campanha eleitoral do ano passado.
Para concluir, conto contigo para quebrar o silêncio da mídia em relação a esse movimento.
Obrigado
A. R.”