(do Transparência SP)
O ativismo do MP e de outras instituições paulistas recentemente refletem, na verdade, um quadro político mais intrincado, com grandes disputas no horizonte.
PSD/Kassab/Serra, PMDB/Temer/Skaf/Chalita, PT/Lula/Marta/Mercadante e PSDB/Alckmin/Bruno Covas devem protagonizar intensas disputas até 2014. O primeiro round será nas eleições municipais em 2012, sobretudo na capital.
De qualquer modo, a "blindagem" do governo paulista, que tão caro custou para o cidadão, está sendo reduzida de forma significativa.
O episódio da estação do metrô no Higienópolis, mesmo com os possíveis excessos produzidos pela imprensa, refletem este novo momento.
Alguns anos atrás, não ficaríamos nem sabendo que teriam ocorrido pressões dos moradores do Higienópolis para que a estação do metrô não fosse colocada no seu bairro. Teríamos apenas as "razões técnicas do Metrô".
Promotoria vai investigar o fim da estação Angélica do metrô
(da Folha de SP)
O Ministério Público de São Paulo vai apurar se a desistência do Metrô de construir uma estação na avenida Angélica, em Higienópolis, bairro da elite paulistana na região central, foi motivada por questões técnicas ou por pressão de moradores e comerciantes.
O promotor Mauricio Antonio Ribeiro Lopes pediu ontem esclarecimentos ao secretário dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes. "Quero saber se ele cedeu a uma pressão da elite ou se a questão foi técnica. Se a questão foi de quem pode mais chora menos, é um absurdo para a cidade."
O promotor Mauricio Antonio Ribeiro Lopes pediu ontem esclarecimentos ao secretário dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes. "Quero saber se ele cedeu a uma pressão da elite ou se a questão foi técnica. Se a questão foi de quem pode mais chora menos, é um absurdo para a cidade."
A Folha revelou ontem (11) que o Metrô retirou a estação Angélica do projeto da linha 6-laranja (Brasilândia-Liberdade), que será substituída por outro terminal na região do estádio do Pacaembu.
A decisão veio após protestos liderados pela Associação Defenda Higienópolis, que temia o aumento do fluxo de pessoas na região e a instalação de camelôs, além de questionar a escolha do local para a estação --na esquina da Angélica com a rua Sergipe, onde hoje há um supermercado Pão de Açúcar.
Segundo o promotor, o governo pode ser denunciado por desrespeito à Constituição, que garante tratamento igual a todos os cidadãos.
A investigação também focará a conveniência da estação no Pacaembu. Um problema seria o fluxo em dias de shows e jogos. Para o coronel Carlos Savioli, comandante do batalhão especializado em policiamento de estádios, a estação não será problema. "A PM tem condições de garantir a segurança."
Anna Claudia de Salles, presidente do Conseg (Conselho Comunitário de Segurança) de Perdizes/Pacaembu, prevê mais furtos e roubos no entorno. "Infelizmente, seremos mais abordados por pessoas flutuantes."
Em nota oficial, o Metrô reafirmou ontem que a decisão de reavaliar o local onde ficará a estação na região foi técnica e que vai colaborar com o Ministério Público.
A companhia diz que a estação Angélica ficaria a apenas 610 m da futura estação Higienópolis/Mackenzie e a 1.500 m da PUC-Cardoso de Almeida. "Essa reavaliação tem caráter exclusivamente técnico, em nada motivada por pressão dos moradores da região de Higienópolis."
A companhia voltou a dizer que a localização exata da nova estação ainda depende da conclusão de estudos técnicos de solo, mas ela deve ficar situada no entorno do Pacaembu.
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/914685-promotoria-vai-investigar-o-fim-da-estacao-angelica-do-metro.shtml
Ser rico não é pecado
(por Sérgio Malbergier, no UOL)
O Brasil ama odiar as tais "elites". Elas são, a priori, culpadas por todas as mazelas do país. Um populismo ingênuo que precisa ser superado.
Veja o caso da mudança da estação do metrô em Higienópolis, bairro de classe média alta de São Paulo entre o Centro e a Paulista.
Moradores e empresários locais são contra a instalação de estação do metrô na esquina da avenida Angélica com a rua Sergipe, onde há décadas funciona uma loja da rede de supermercados Pão de Açúcar.
A pressão da comunidade, sim, "ricos" também formam comunidades com direitos iguais às outras comunidades segundo a Constituição brasileira, pode ter influído na decisão do Metrô de mudar a estação do bairro habitado por eles para perto do estádio do Pacaembu.
Isso gerou em alguns uma reação histérica, preconceituosa e errada no mérito. Como se os moradores locais, apenas por terem renda mais elevada que a média, não pudessem ter voz no destino de seu próprio bairro.
Morei muito perto dessa esquina por muitos e muitos anos. Meus pais ainda moram lá. Posso falar com propriedade que a mudança de local da estação faz bastante sentido. Já está sendo construída uma estação ali perto, no colégio e universidade Mackenzie, a poucas quadras.
Faz mais sentido a nova estação atender à região do Pacaembu (com os enormes fluxos ao estádio, à universidade Faap, aos bairros do Pacaembu e das Perdizes) do que replicar uma estação a poucas quadras em Higienópolis.
E a loja do Pão de Açúcar pode não ser arquitetonicamente relevante, mas ela há décadas faz parte da vida cotidiana do Alto Higienópolis, é peça fundamental do corpo vivo do bairro e perdê-la seria descaracterizá-lo um pouco.
A associação de moradores de Higienópolis já se equivocou antes, quando atacou a construção de shopping no bairro, que ao final trouxe serviços e valorização à região. Mas desta vez ela parece ter razão.
A pegada histórica de nossas elites tem episódios arrepiantes. Colonialismo, escravismo, autoritarismo, extrativismo humano, desigualdade extrema. Os pobres de fato sempre foram oprimidos, reprimidos, explorados, forçados à ignorância, ao silêncio, à miséria.
Mas isso também está mudando. Sob Lula, e esse foi seu grande legado, aprendemos que o capitalismo é bom para todos. O Brasil encontrou seu caminho justamente quando ricos e pobres começaram a enriquecer juntos.
Nascem uma nova elite e novos ricos. Balzac dizia que atrás de toda fortuna havia um crime. Mas isso foi no século 19. Estamos no século 21, pós Lula e FHC, pós-consenso capitalista.
Ser rico no Brasil não é mais só pecado, é também virtude.