26/03/2011
“Nunca passou pela minha cabeça existir bandido de farda.” A frase, de uma mãe de um motoboy torturado e morto num quartel da Polícia Militar, exprime toda a surpresa e a revolta diante de um fato absurdo.
Não se trata, porém, de um caso raríssimo, como seria de esperar. De 2006 a 2010, umas 150 pessoas foram assassinadas por PMs na cidade de São Paulo sem justificativa, segundo levantamento da Polícia Civil.
As motivações dos crimes revelam bem que se trata de bandidagem: 20% foram por vingança, 15% por cobrança de ligadas ao tráfico ou ao jogo ilegal, 13% por abuso de autoridade e 13% por “limpeza” (como a morte de viciados).
Para piorar ainda mais o que já é bem ruim, seis em cada dez vítimas não tinham antecedentes criminais. O fato de a maior parte dos mortos terem a ficha limpa reforça a sensação de desamparo. Passa a ideia de que qualquer um pode ser a próxima vítima.
Os principais culpados por esses crimes são dois grupos de extermínio, um na zona norte e outro na zona leste. O objetivo é explorar o tráfico de drogas, o jogo ilegal, oferecer proteção e “limpar” a área, como se os policiais militares matadores fossem menos criminosos que os bandidos que eles matam. Não são.
O controle sobre a polícia é fundamental para que a sociedade possa confiar nas forças de segurança. Para isso, é importante que os responsáveis por esses desvios –a minoria na corporação– sejam exemplarmente punidos. Senão, fica difícil deixar de sentir medo na hora em que a polícia chega.