01/06/2010
Rafael Nunes, de 18 anos, era um dos mais entusiasmados no início da tarde de ontem no clube Juventus, em São Paulo, durante a cerimônia de entrega de certificados para 1.592 formandos do Próximo Passo, o programa de qualificação profissional para beneficiários do Bolsa Família. O jovem vai bem na escola, mas está cansado de pedir dinheiro para o pai, pedreiro. Não por acaso decidiu fazer o curso de construção civil: o tio é ajudante de obras, e o primo, azulejeiro. Agora, com a carteira assinada, não vê a hora de começar no primeiro emprego. Curiosamente, embora a formatura fosse num curso voltado a um mercado predominantemente masculino, 80% dos formandos eram mulheres. Nem o presidente Lula resistiu aos encantos da plateia feminina: a uma grávida exaltada, recomendou que não pulasse tanto; a uma jovem, prometeu “uma foto ali com a pitchuquinha”. E brincou mais um pouco: “Estão jogando muitos bilhetes no palco, mas nenhum com proposta romântica”.
Parceria entre os ministérios do Desenvolvimento Social, das Cidades e do Turismo, o Programa Próximo Passo é destinado aos beneficiários do Bolsa Família, programa reconhecido internacionalmente, mas apontado por alguns como excessivamente paternalista, sem “porta de saída”. Pois essa porta surge agora justamente para pessoas como a ex-doméstica Marisa Lourdes, de 49 anos, há dois desempregada. Ela está muito orgulhosa de ser ajudante de pedreiro: “Isso que mulher não pode trabalhar em obra é tabu. E tabu existe para ser enfrentado e derrubado”, desafia. A também ex-doméstica Rosenilda Santana está pronta para começar como ajudante elétrico: “Foram 40 dias, 200 horas de aula, muita apostila e muito kit até aprender. Mas hoje eu faço qualquer instalação em qualquer obra”, garante.
No palco, o presidente Lula disse que o Brasil ficou 20 anos sem crescer e gerar oportunidades de trabalho, mas até o fim deste ano mais 14 milhões de brasileiros terão a carteira assinada. Os ministros do Trabalho, Carlos Lupi, e do Desenvolvimento Social, Márcia Lopes, que o acompanhavam, lembraram sua origem humilde, saído do interior de Pernambuco para ser presidente. E o Rafael, lá do começo da reportagem? O que ele espera do futuro imediato? “Ele já queria começar como pedreiro, é o que todo mundo quer, R$ 12,00 a hora de trabalho”, conta a mãe, Maria Leontina Nunes. Mas ela já avisou o garoto: “A vida não é assim, você vai começar por baixo, como todo mundo, como ajudante, e se trabalhar bem e bastante pode um dia ser alguém na vida”.