04/06/2010
É tanta greve em São Paulo que fica até difícil lembrar em que pé está cada uma. A dos trabalhadores da USP e da Unicamp continua; a dos funcionários da Sabesp foi suspensa; a dos trabalhadores da Fundação Casa, antiga Febem, também; a dos metroviários foi evitada por um acordo… E esses são só alguns segmentos dos 800.000 funcionários públicos na ativa.
Para um balanço das últimas paralisações e de suas causas na sucessão de governos do PSDB, o jornalista Fabrício Moreira, de Brasília Confidencial, entrevistou Carlos Ramiro de Castro, o Carlão, coordenador do Conselho do Funcionalismo do Estado de São Paulo, diretor do sindicato estadual dos professores (Apeoesp) e vice-presidente estadual da CUT.
Brasília Confidencial - Por que tantas greves?
Carlos Ramiro de Castro - Porque o governo não tem uma política salarial, só de gratificações, bônus e abonos. Eles não respeitam a data-base do funcionalismo, que é 1º de março, nem atendem as reivindicações por melhores condições de trabalho. As perdas são grandes em muitas categorias em termos de salários; algumas categorias chegam a 150% de perdas. Chega um ponto em que a categoria tem que entrar em greve porque é a única forma de forçar o governo a negociar.
BC - O Governo Alckmin tratava os grevistas de modo diferente?
Carlão - Em todos os governos tucanos o tratamento é o mesmo: sem negociação, desrespeito à data-base e ausência de política salarial. Se o Alckmin mantiver, num eventual novo mandato, o mesmo tipo de política que já adotou em relação ao funcionalismo, vai ser novamente um governo de desmonte dos serviços públicos, como faz esse governo há 16 anos. O que eles dão, quando dão, não é reajuste, são esses paliativos. Tanto é que o orçamento do governo para esse ano não prevê reajuste.
BC - E tem dinheiro pra reajustar?
Carlão - Ah, tem. No primeiro quadrimestre deste ano, o governo estadual arrecadou muito acima do previsto. Inclusive, o índice de gastos com funcionalismo está até bem abaixo do limite da Lei de Responsabilidade Fiscal. O gasto com funcionalismo tá por volta de 41%, enquanto o limite prudencial é de 46%. Ou seja, daria para dar aumento sem infringir a lei, se a preocupação era essa.
BC - Que balanço faz das greves deste ano?
Carlão - Muitos sindicatos ainda estão em negociação, mas, até agora, o que foi dado é muito pouco em relação às reivindicações. Fora isso, continua a política de terceirização do serviço público e a criminalização dos movimentos sociais.
BC - Criminalização como?
Carlão - Em vez de negociar com os grevistas, o governo faz tudo que pode para impedir qualquer tipo de manifestação, inclusive ir à Justiça pra impedir os protestos. Quando não é o governo, é o Ministério Público, que pede multa pra os sindicatos. Eu mesmo tenho uma multa de R$ 4 milhões nas costas por causa de uma passeata.