O crime organizado no estado de São Paulo chegou a um nível em que se parece muito com o sindicato do crime na Chicago do inicio do século passado. A maioria dos bandidos fazem parte de uma facção criminosa e o restante seguem as regras impostas pela quadrilha.
Na gíria da bandidagem quem faz parte da quadrilha é tratado por “Irmão”, os que convivem pacificamente ou se submetem aos regulamentos criminosos impostos são tratados por “primos” e os inimigos são chamados de “coisa”.
Uma parte considerável das delegacias de policia conta com policiais corruptos, o que dificulta ainda mais o trabalho de policiais militares do patrulhamento de área. Prender bandidos graduados não é fácil e prender bandido pé de chinelo significa lhe conceder uma promoção na hierarquia da quadrilha que não por acaso chamam os presídios de “Facul”, uma alusão à faculdade do crime.
Insistir em combater bocas de fumo (chamadas pelos bandidos de biqueira ou lojinha) é assinar a própria sentença de morte. A mão de obra farta e barata não deixa que a boca de fumo pare de funcionar por um só dia, no máximo muda de lugar e o policial que causa prejuízos constantes entra para a lista de “coisas” a serem exterminadas.
Os acontecimentos recentes na baixada santista e na zona norte de São Paulo podem nos dar uma pista do que está acontecendo. No Guarujá, um policial da força tática que atrapalhava a vida dos traficantes foi executado em uma emboscada, enquanto atendia a uma falsa ocorrência. A partir de então quase três dezenas de execuções sumarias se sucederam. Mesmo os que não contavam com passagens pela policia podem ter sido executados por se colocarem espontaneamente na guerra, prestando serviços ou informações a um dos lados.
Na zona norte uma guarnição da PM prendeu dois assaltantes que haviam roubado celulares. Com a dupla foi encontrado um revolver calibre 32. A dupla foi liberada e no dia seguinte um dos bandidos sofreu uma tentativa de homicídio. Os atiradores foram flagrados por policiais em serviço e ainda assim liberados. A corregedoria da policia militar reluta em liberar imagens dos policiais para a policia civil. É uma seqüência muito estranha esta.
Uma fonte que não se deixou identificar tem uma hipótese muito mais plausível do que as noticias que a imprensa divulga. Prender um menor de idade e um bandido com ficha limpa por roubo de celulares pode ser um tiro no pé. As vitimas podem simplesmente não registrarem a ocorrência e com a ajuda de um advogado por pior que seja ou quem sabe um delegado pouco amigo da probidade, um assalto vira porte ilegal de arma e os bandidos voltam para as ruas para se tornarem algozes em potencial dos policiais que efetuaram a prisão.
Desarmar o bandido (tomando lhe a arma, que alias tem pouquíssimo valor de mercado e nem justificaria o risco que os policiais correram) para depois simplesmente sentenciá-los a morte resolve dois problemas de uma só vez. Acaba com a carreira criminosa sem ter um inimigo espreitando a próxima ronda no bairro. E explica a possivel conivencia de outros policiais.
Não são poucos os policiais militares que vêem na policia civil uma inimiga e um antro de corrupção ( O que explica os entraves da corregedoria em liberar fotos de policiais militares). A única alternativa a estes policiais para combater o crime organizado sem se colocarem no papel de alvo fácil é simplesmente executar os bandidos que lhe parecem ameaça. Prender pode não resolver, mas enterrar resolve com certeza.
A policia militar de São Paulo pode estar abrigando diversas células de “justiceiros”, mas a atuação destes grupos se difere de outros justiceiros que ficaram famosos no passado. Os novos justiceiros da PM (ou Ninjas como alguns grupos ficaram conhecidos pelo uso de capuz e motos pretas) surgiram da absoluta necessidade de autodefesa dos policiais que não aceitam se corromperem ou simplesmente fazerem vistas grossas. Seus alvos são exclusivamente pessoas ligadas ao trafico de drogas (principal atividade da quadrilha que comanda o crime em São Paulo) e sua fonte de financiamento incerta.
Policiais honestos e corruptos morrem, gente sem ficha na policia morre, mas até agora os mortos tem algum grau de envolvimento com a guerra. O sintoma mais visível desta guerra é o aumento do numero de homicídios em São Paulo depois de quase uma década de queda, onde vai parar ainda não se sabe.