Fausto Figueira
Ao anunciar sua intenção de criar um ministério da segurança pública caso eleito para a Presidência da República, o ex-governador de São Paulo, José Serra, mete os pés pelas mãos ao ignorar uma regra básica para quem quer colocar ordem na bagunça: fazer a lição de casa.
Enquanto a violência na Baixada Santista vira assunto internacional, Serra finge que não tem nada a ver com isso e acena com uma promessa de campanha, subestimando a inteligência da população, que trabalha, paga impostos e vive assombrada pelo crime.
Há 27 anos o mesmo grupo se reveza no comando de São Paulo e, em quase três décadas, o crime organizado se estabeleceu como poder paralelo, abrindo portas para facções criminosas deitarem e rolarem nas barbas dos tucanos.
A promessa de Serra aconteceu no momento em que a Baixada Santista vive uma sangrenta guerra, supostamente entre facções criminosas e grupos de justiceiros, que já fez 23 vítimas, muitas delas jovens pobres, moradores da periferia e sem passagem pela Polícia.
O candidato tucano à Presidência da República é o mesmo que governou São Paulo nos últimos anos. O resultado é revelado nas estatísticas da própria Secretaria da Segurança Pública: nos três primeiros meses de 2010 (e último trimestre de Serra no governo) os homicídios dolosos (quando há intenção de matar) na Baixada Santista cresceram 27% - foram 85 mortes - em relação a igual período de 2009.
Em comparação com 2008, em 2009 os homicídios dolosos aumentaram 3% no Estado de São Paulo (foram 4.557); os latrocínios (roubo seguido de morte) cresceram 14%; extorsão mediante sequestro subiu de 60 para 85. O Estado registrou ainda mais de 528 mil casos de furto, 8% a mais que em 2008.
Os índices de roubo chegaram a bater o recorde da década. Foram 257.004 roubos no ano passado, contra 217.967 em 2008, um aumento de 18%. Os casos de estupro (que agora incluem atentado violento ao pudor) também bateram recorde. Pularam de 3.338, em 2008, para 5.647, em 2009.
Enquanto a média do Estado aumentou 3%, na Baixada o número de homicídios dolosos cresceu 34%. Foram 260 assassinatos registrados em 2009, contra 194 em 2008. Em Santos, para grupo de 100 mil habitantes, houve 16 assassinatos em 2008 e 33 em 2009.
Houve aumento também em outras modalidades criminosas (taxa de delito por 100 mil habitantes): 6.483 furtos em 2008, contra 7.386 em 2009; 3.187 roubos em 2008, contra 4.021 em 2009; 1.948 furtos de veículo em 2008, contra 2.170 em 2009.
O modelo tucano na área da segurança pública possibilitou a sobrevivência e o fortalecimento do crime organizado. O PSDB paga mal os agentes da lei; priva os policiais de treinamento e equipamentos básicos para exerceram a função de proteger a sociedade. Mal remunerados, mal aparelhados e mal geridos, os policiais paulistas são, muitas vezes, obrigados a fazer bico, até com a conivência de seus superiores.
A recente onda de violência na Baixada Santista é um exemplo incontestável da falência da política de segurança tucana, que influi até mesmo na baixa expectativa de vida regional, a pior do Estado. A segurança pública aparece em todas as pesquisas de opinião como um dos pontos mais mal avaliados pela população. Enfrentar problema tão grave com factóides eleitorais é uma demonstração de como se gestou o fracasso em São Paulo.
*Fausto Figueira é deputado estadual pelo PT-SP