O jornal O Estado de S. Paulopublica hoje uma matéria que deveria ir para um programa humorístico, se não fosse o retrato da tragédia que ocorre com o jornalismo brasileiro. É o primeiro caso de entrevista coletiva em “off the records” no mundo!
A matéria diz, literalmente, que “Washington convocou uma entrevista para “esclarecer” pontos sobre o acordo (entre Brasil, Turquia e Irã) e desmentiu Amorim”. Você pode ler matéria de cabo a rabo que não vai saber quem deu a entrevista. Os entrevistados são descritos assim: “três altos funcionários do governo que participaram da entrevista”, “os americanos afirmaram”, “os americanos disseram”…
E o que foi dito na “entrevista” pelos funcionários-sem-nome? Que a carta de Obama para Lula “não continha instruções para negociação.” Deveria? O presidente de um país soberano recebe “instruções” de um governo estrangeiro. É “menino de recados” de outro país? O Brasil seguiu o roteiro de Obama porque achou que isso poderia ajudar a trazer a paz, mas agora o roteiro é desmentido pelo próprio autor.
Noutra matéria sem fonte definida, o portal IG diz que uma autoridade americana disse que o Brasil deveria ter submetido o rasculho do acordo aos EUA, antes de assinar.Quem sabe deveria perguntar: “assim tá bom, tio”?
O sabujismo da mídia brasileira em relação aos Estados Unidos e sua ânsia em criar uma crise diplomática entre eles e o Brasil é tão grande que produziu esta pérola: a primeira entrevista coletiva emoff da história do jornalismo.
PS. Pela coluna do Clóvis Rossi, na Folha, fico sabendo agora que a tal “entrevista” coletiva foi uma conferência telefônica em que três altos funcionários tiveram com correspondentes brasileiros nos EUA, sob a condição de anonimato. Deve ser uma operação meio rocambolesca , do tipo eu-ligo-você-me-liga para-confirmar-que você-é-você-mesmo- quem-diz-que-é, mas como ele conta que é praxe(?) fazeram assim, vá lá. Vou deixar o p0st assim mesmo, pois o Estadão não teve a fineza de informar a seus leitores que existe esta forma 007 de fazer coletivas diplomáticas. O mais importante é o que ele diz lá, e que contradiz o tom ameaçador com que os demais veículos publicaram o convescotetelefônico. Lá, ele diz que ficou com a nítida impressão de que os EUA queriam “aliviar a barra” do Governo brasileiro. Quem sabe foi por achar que a imprensa brasileira pudesse estar furiosa com o comportamento “esqueçam o que escrevi” do Governo americano sobre a carta de Obama. Se foi isso, é mais uma prova de que não entendem nada do Brasil mesmo, pois a mídia está amando a Hillary dar “broncas” nos “negrinhos” que se meteram a dar pitaco em relações mundiais e, ainda mais, para evitar escaladas belicosas. Que audácia!