Coronel Álvaro Camilo escreveu carta de próprio punho para mãe do rapaz e dá a entender que concorda com versão de que rapaz morreu em quartel
27 de abril de 2010 | 0h 00
Josmar Jozino – O Estado de S.Paulo
O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Álvaro Camilo, escreveu uma carta de três páginas à pedagoga Elza Pinheiro dos Santos, de 62 anos, pedindo desculpas pela morte de seu filho Eduardo, de 30. O motoboy foi encontrado morto com traumatismo craniano e hemorragia à 0h10 do dia 10, três horas após ser abordado por PMs e levado para a 1.ª Companhia do 9.º Batalhão, na Casa verde, zona norte da capital.
O teor da correspondência indica que, para Camilo, o motoboy foi morto dentro do quartel. Nove PMs – um sargento e oito soldados – suspeitos de envolvimento na morte estão presos administrativamente.
Segundo uma fonte da PM, o coronel escreveu a carta de próprio punho, datada de 23 de abril. No primeiro parágrafo, ele se dirige a Elza não como comandante-geral, mas como Álvaro Camilo e pede desculpas “pelo que, a princípio, pessoas insanas e desumanas fizeram à sua família”.
O comandante-geral, então, deixa claro que se coloca como pai e lamenta o episódio. O coronel classifica a morte de Eduardo “como ato inconcebível desses homens que envergaram a farda da Polícia Militar, mas se esqueceram do juramento feito de defender a sociedade com o sacrifício da própria vida”.
No terceiro parágrafo, Camilo chama de “abominável a conduta desses homens que se dizem defensores da lei “. E critica a atitude dos PMs com a seguinte frase: “Não sabemos por que dessa conduta. Pode ser que a justiça venha a descobrir, mas suas posturas demonstram que andaram no caminho do mal.”
O comandante-geral da Polícia Militar encerra a carta com uma curta mensagem de pesar à mãe de Eduardo: “Que Deus lhe conforte e ilumine nesse momento de dor e de sofrimento.”
Investigação. A Corregedoria da Polícia Militar já tem indícios para pedir a prisão preventiva dos nove investigados por suposto envolvimento na morte de Eduardo. Na semana passada, o secretário de Segurança Pública, Antônio Ferreira Pinto, havia determinado às Polícias Civil e Militar rigorosa apuração dos fatos nas esferas administrativa e penal.
O advogado Marcelo Hazan, defensor de dois dos nove PMs investigados, afirmou na sexta-feira que seus clientes são inocentes. “Eles não torturaram nem espancaram ninguém.” Segundo Hazan, tanto os três rapazes como Eduardo foram liberados do quartel e o caso não foi levado para o 13º DP (Casa Verde) porque as duas partes assim decidiram. “O motoboy estava exaltado e por isso foi liberado um pouco mais tarde. Depois foi encontrado na rua.”
Testemunhas dizem que o motoboy recebeu socos, chutes e golpes de cassetetes de policiais na sede da 1.ª Companhia do 9.º Batalhão. Eduardo foi abordado por PMs por volta de 20h50 do dia 9, na esquina da Rua Maria Curupaiti com a Avenida Casa Verde. Ele discutia com três rapazes sobre o furto de uma bicicleta. Segundo apurações do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), durante a discussão chegaram as viaturas 09145 e 09149. Testemunhas disseram que o motoboy levou um soco no peito e, revoltado, deu uma rasteira num PM. O motoboy foi algemado, colocado numa viatura e levado para o quartel. Os três rapazes foram conduzidos para a mesma unidade em outra viatura e, horas depois, acabaram liberados. Eduardo foi torturado e espancado e chegou morto no Pronto-Socorro de Santana.
PARA LEMBRAR
Rara, atitude foi a mesma em caso de dentista
Rara, atitude foi a mesma em caso de dentista
Um pedido de desculpa à família de uma vítima de violência policial é incomum. Na história recente da Polícia Militar, o caso mais notório foi o que envolveu o assassinato do dentista Flávio Ferreira Sant”Ana, de 28 anos. Ele foi executado por policiais que pensavam que ele era um assaltante. Flávio era negro e filho de um sargento aposentado da PM.
Os policiais acusados simularam um tiroteio e afirmaram que a vítima havia reagido. O crime ocorreu em fevereiro de 2004. No dia 9 daquele mês, o comandante-geral, coronel Carlos Alberto Rodrigues, foi à casa da família do dentista, na zona leste, e solidarizou-se com o pai de Flávio, Jonas Sant”Ana. “A polícia não é cúmplice de atitudes erradas.”
Os policiais acusados simularam um tiroteio e afirmaram que a vítima havia reagido. O crime ocorreu em fevereiro de 2004. No dia 9 daquele mês, o comandante-geral, coronel Carlos Alberto Rodrigues, foi à casa da família do dentista, na zona leste, e solidarizou-se com o pai de Flávio, Jonas Sant”Ana. “A polícia não é cúmplice de atitudes erradas.”