(do Transparência SP)
Aos poucos, começam a vir à tona as relações da quadrilha de Cachoeira (através da empreiteira Delta) com o governo paulista.
A Delta, que fazia parte do consórcio responsável pela obra da Nova Marginal Tietê - principal vitrine de Serra na disputa presidencial de 2010 - subcontratava outras empresas para fazer as obras. O controle contábil destas operações era quase nenhum, dando margem à famosa "lavagem de dinheiro".
Só com a quebra do sigilo bancário deste consórcio e das subcontratadas é que será possível analisar o que realmente houve por trás destas operações.
Os personagens são controvertidos: Paulo Preto (acusado de desviar recursos de campanha do Serra e flagrado na Operação Castelo de Areia por comandar esquema de propinas em obras públicas), Delson Amador (flagrado na Operação Castelo de Areia por comandar esquema de propinas em obras públicas) e Heraldo Puccini Neto (responsável pela Delta no Sudeste e foragido da Justiça).
Apenas a grande mídia não se interessa em apurar.
Cachoeira e suas digitais em Sampa
Os
 técnicos da CPI do Cachoeira acabam de concluir um levantamento 
completo de todos os contratos firmados em São Paulo, governo estadual e
 prefeitura da capital, com a Delta Construções, ligada ao esquema 
criminoso comandado pelo bicheiro. É coisa de 1,2 bilhão de reais. O 
resultado, além de revelador sobre as relações dos governos do PSDB com a
 empresa-mãe da quadrilha de Cachoeira, trouxe à tona uma suspeita sobre
 os bastidores dos negócios milionários fechados na gestão do prefeito 
Gilberto Kassab (PSD), sob a influência do senador cassado Demóstenes 
Torres, do DEM de Goiás.
Uma interceptação telefônica realizada pela Polícia Federal durante a
 Operação Monte Carlo captou um diálogo entre Cachoeira e Cláudio Abreu,
 diretor da Delta na Região Centro-Oeste, onde ambos discutem contratos 
da empreiteira com a prefeitura de São Paulo. No grampo, de 31 de 
janeiro deste ano, o bicheiro pergunta a Abreu o resultado de uma 
conversa do ex-presidente da Delta Fernando Cavendish com Kassab sobre 
um contrato ainda não identificado. O diretor da construtora faz uma 
revelação: em consideração ao então senador Demóstenes Torres, o 
prefeito de São Paulo teria triplicado os valores do tal contrato. A 
conversa é a seguinte, retirado do áudio ao qual CartaCapital teve acesso:
Carlinhos Cachoeira: Outra coisa, Cláudio, você falou pro Fernando (Cavendish) do negócio lá do Kassab?
Cláudio Abreu: Ih, cara… Eu vou encontrar com ele mais tarde, eu vou voltar lá pra dar um retorno pra ele. Mas fala aí, o que é o negócio lá? Do contrato, né? Ele fez as coisas lá, né? Até pelo professor (Demóstenes Torres), né?
Cachoeira: Ele (Kassab) falou que triplicou o contrato por ele (Demóstenes).
Cláudio Abreu: Ih, cara… Eu vou encontrar com ele mais tarde, eu vou voltar lá pra dar um retorno pra ele. Mas fala aí, o que é o negócio lá? Do contrato, né? Ele fez as coisas lá, né? Até pelo professor (Demóstenes Torres), né?
Cachoeira: Ele (Kassab) falou que triplicou o contrato por ele (Demóstenes).
De acordo com o levantamento feito pela CPI, a prefeitura de São 
Paulo tem três contratos com a Delta, firmados entre 2004 e 2012, num 
valor total de 307,6 milhões de reais. Um da Companhia de Limpeza Urbana
 (Comlurb), de 93,7 milhões de reais. Um de urbanização da favela de 
Paraisópolis, via Secretaria de Habitação, de 15,4 milhões de reais. E 
um da São Paulo Transporte S.A. (SPTrans), de 12,2 milhões de reais. 
Pela data do grampo da PF, não é possível detectar exatamente qual dos 
contratos teria sido triplicado, pois todos abarcam também o ano fiscal 
de 2012. Segundo Emerson Figueiredo, assessor de imprensa da prefeitura,
 Kassab “desconhece o diálogo, seus supostos autores e considera 
improcedente o seu conteúdo”.
As relações entre a Delta e o governo estadual 
tratam de cifras maiores, cerca de 943 milhões de reais, em valores 
corrigidos, referentes a contratos firmados durante os governos tucanos 
de José Serra (765 milhões de reais) e Geraldo Alckmin (178 milhões de 
reais), entre 2002 e 2012. Os negócios foram firmados a partir de 
demandas de cinco estatais: Desenvolvimento Rodoviário (Dersa), 
Departamento de Estradas de Rodagem (DER), Departamento de Águas e 
Energia Elétrica (Daee), Companhia de Saneamento Básico do Estado de São
 Paulo (Sabesp) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
A principal obra contratada pelo governo estadual à Delta, na gestão 
de Alckmin, é o chamado Consórcio Nova Tietê, de ampliação da avenida 
marginal ao Rio Tietê, no valor de 149,9 milhões de reais. O contrato 
valeu de 22 de junho de 2009 a 10 de abril de 2012. Ao analisar a 
transferência de recursos do consórcio para a conta da Delta, os 
técnicos da CPI concluíram que as empresas envolvidas na obra não 
possuem controle de compensação de créditos e débitos. Dessa forma, uma 
empresa pode ter subcontratado a outra e pago o valor total pelo 
serviço. Por esse artifício, a diferença de eventual desvio de dinheiro 
público, por meio de superfaturamento ou pela falsa notificação de 
entrega real do serviço, é devolvida ao subcontratante, sem fiscalização
 alguma.
A Delta pode ter acertado um esquema de lavagem de dinheiro por meio 
de subterfúgios burocráticos. Além disso, segundo a avaliação da CPI, as
 empresas subcontratadas pela construtora possuem entre si contratos 
mútuos de diferentes obras, serviços ou negócios (lícitos ou ilícitos) e
 fazem pagamentos entre si sem compensar valores por meio de controle 
contábil (oficial ou não).
As informações da CPI a respeito dos contratos estaduais coincidem 
com um levantamento anterior feito pela repórter Conceição Lemes, do 
site Viomundo, com base em dados do blog Transparência São Paulo, 
especializado em análise de contas públicas. A partir dessas 
informações, foi possível detectar que o contrato da Dersa, referente às
 obras no Tietê (415 milhões de reais) foi assinado por Paulo Vieira de 
Souza, o Paulo Preto, diretor de Engenharia do órgão até abril de 2010, e
 pelo presidente da estatal, Delson Amador, que acumulava a 
superintendência do DER.
Intimamente ligado aos tucanos, Paulo Preto foi 
apontado como arrecadador de campanha do PSDB e chegou a ser acusado de 
sumir com 4 milhões de reais supostamente destinados à campanha 
presidencial de Serra em 2010. Os nomes dele e de Amador aparecem ainda 
em outra investigação da Polícia Federal, a Operação Castelo de Areia, 
na qual executivos da construtora Camargo Corrêa foram acusados de 
comandar um esquema de propinas em obras públicas.
Em 1997, durante a presidência do tucano Andrea Matarazzo, Delson 
Amador virou diretor da Companhia Energética de São Paulo (Cesp), depois
 privatizada. Era responsável pela fiscalização de obras tocadas pela 
Camargo Corrêa, como a Usina de Porto Primavera e a Ponte Pauliceia, 
construída sobre o Rio Paraná para ligar os municípios de Pauliceia, em 
São Paulo, e Brasilândia, em Mato Grosso do Sul. Amador foi chefe de 
gabinete de Matarazzo na subprefeitura da Sé, na capital paulista.
Uma certidão emitida pela Junta Comercial de São Paulo revela que 
Heraldo Puccini Neto, diretor da Delta para São Paulo e o Sul do Brasil,
 aparece como representante legal do Consórcio Nova Tietê. Escutas 
realizadas pela PF demonstram que Puccini é um dos interlocutores mais 
próximos de Carlinhos Cachoeira. Documentos da Operação Monte Carlo o 
apontam como um dos elementos da quadrilha que preparavam editais para 
ganhar licitações públicas.