PMs esperam 12 horas e ocorrência de tráfico só é feita pela Polícia Civil quando o titular da pasta de segurança pública interfere
Tahiane Stochero e Jow
Diário SP
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Era para ser apenas mais uma prisão por tráfico das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), mas o caso se transformou em uma briga entre as polícias Civil e Militar e só terminou com a interferência do secretário de Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, após os PMs esperarem 12 horas na delegacia pela realização do boletim de ocorrência.
Ferreira confirmou ter atuado a favor da Rota, pelo fim do lenga-lenga no 46º Distrito Policial (Perus), na Zona Norte, no último dia 5, para que o BO fosse feito. “Toda vez que houver situação de má atendimento à população ou à PM nas delegacias e chegar ao meu conhecimento, eu vou intervir”, disse o secretário. “Esta não é a primeira nem a última vez que farei isso”, acrescentou.
Na manhã do dia 5 de janeiro, a Rota recebeu uma denúncia de tráfico na Rua Paulo Arentino, no Jaraguá. No local, foram presas duas mulheres com 3 quilos de cocaína, 300 gramas de crack, uma espingarda calibre 12, munições e R$ 10 mil. Três viaturas e dois oficiais atuaram. E foi ao chegar ao 46º DP, às 13h, que começou a confusão e a longa espera.
A Rota, considerada a tropa de elite da PM, foi o alvo de uma disputa política entre as polícias Civil e Militar
Ligações / Segundo PMs, até as 17 horas, não havia delegado no distrito. Antes deles, na fila, outros dois casos para serem registrados – a captura de um procurado e uma lesão corporal. No início da noite, como nada havia sido feito, o comandante da Rota, coronel Paulo Adriano Telhada, telefonou para o secretário pedindo ajuda. Ferreira ligou para o diretor da Polícia Civil da capital, Eduardo Hallage, e este procurou a delegada seccional da Zona Oeste, que chefia a área, Elaine Maria Biasoli Pacheco.
Ela pegou o telefone e mandou o delegado plantonista do 46º DP registrar, enfim, a ocorrência da Rota. O boletim de ocorrência 76/2011 foi finalizado à 1 hora do dia 6. Elaine confirmou a ligação do superior, mas não falou sobre o fato. O titular do 46º DP, Vitor Martinez, não respondeu à reportagem. Ferreira, por sua vez, foi enfático: “Não se trata de caso isolado. Vou intervir sempre”.
Sistema de trabalho está falido, diz delegada
Para a presidente da Associação dos Delegados de Polícia de São Paulo, Marilda Pinheiro, o atual modelo de trabalho das delegacias está “falido e defasado” e “a população é que está pagando a conta”. “O modo de organização dos plantões é arcaico. Temos problemas de tecnologia e o sistema de registro de ocorrências nunca funciona”, diz a delegada. Marilda defende a criação de centrais de polícia judiciária em cada região da capital e também no interior do estado, capazes de registrar prisões de flagrante e liberando as delegacias de bairro para investigações e registro de outros crimes, como roubos e furtos. “Entregamos no ano passado ao secretário Ferreira Pinto este projeto e ele prometeu analisar”, disse Marilda.
Para a presidente da Associação dos Delegados de Polícia de São Paulo, Marilda Pinheiro, o atual modelo de trabalho das delegacias está “falido e defasado” e “a população é que está pagando a conta”. “O modo de organização dos plantões é arcaico. Temos problemas de tecnologia e o sistema de registro de ocorrências nunca funciona”, diz a delegada. Marilda defende a criação de centrais de polícia judiciária em cada região da capital e também no interior do estado, capazes de registrar prisões de flagrante e liberando as delegacias de bairro para investigações e registro de outros crimes, como roubos e furtos. “Entregamos no ano passado ao secretário Ferreira Pinto este projeto e ele prometeu analisar”, disse Marilda.
A delegada diz que os policiais civis irão continuar lutando pela melhoria dos salários. “Temos o pior pagamento do país, isso tem que mudar. Muitos colegas estão indo trabalhar em outros estados e os policiais que ficam estão em um regime de escravidão”, acrescenta Marilda.
Ela própria fez uma visita ao 46º DP, onde a Rota teve problema, no final do ano passado, diante das reclamações dos policiais civis pela falta de efetivo e modificações nas escalas de trabalho. “Queremos condições dignas para trabalhar, pois as dificuldades afetam a qualidade do serviço prestado ao povo”, diz.
No 46º Distrito Policial, no Perus, policiais civis enfrentam escala dura e deixaram policiais da Rota esperando
Polícias prometem atuação conjunta
O novo delegado-geral, Marcos Carneiro (ao centro na foto abaixo), prometeu ações unificadas contra o crime organizado com apoio da PM. Ele se reuniu com coronel Alvaro Camilo, e o superintendente da Polícia Científica, Celso Periolli (à direita).
14 dias antes a Polícia Civil sabia do problema no 46º DP
Trabalho na Polícia Civil priorizará investigação
Carneiro irá focar a investigação e não irá tolerar que BOs demorem para ser registrados ou que delegacias fiquem paradas. “Não tem essa de estar fora do ar o programa. Teremos que fazer o boletim mesmo off-line”, afirmou o delegado-geral.
PM não se manifesta sobre convivência
Procurada, a Polícia Militar informou que não irá se pronunciar sobre a demora para realização de ocorrências nos plantões de delegacias e sobre o caso específico da Rota.
http://www.diariosp.com.br/_conteudo/2011/01/21319-rota+leva+canseira+em+delegacia+e+secretario+manda+fazer+bo.html#