Prefeito de Pindamonhangaba selou acordo em 2006 para não atingir campanha de tucano.
(dO Estado de São Paulo)
Políticos de Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba, fizeram um pacto em 2006 para blindar o tucano Geraldo Alckmin - então candidato à Presidência - retardando medidas para investigar o escândalo que envolve seu cunhado, Paulo Ribeiro, o Paulão, em suposto esquema de corrupção e tráfico de influência.
Documento subscrito por 11 vereadores da cidade diz expressamente que o prefeito João Ribeiro (PPS), apadrinhado de Alckmin, teria se comprometido a "tomar providências" sobre denúncias de desvios na administração "após as eleições".
O documento foi redigido em 27 de outubro de 2006, a dois dias do segundo turno das eleições presidenciais. Alckmin duelava com o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. "O objetivo era impedir que (o escândalo) respingasse no Geraldo", conta João Bosco Nogueira, ex-vice prefeito de Pinda que rompeu com João Ribeiro após se insurgir contra movimentos de Paulão no governo municipal.
Nogueira afirma ter ouvido do prefeito o compromisso de que adotaria medidas, inclusive demitindo secretários que teriam sido indicados pelo lobista. "Isso aconteceu entre o primeiro turno e o segundo da eleição para a Presidência", relata Nogueira. "O prefeito disse: "pode tranquilizar o pessoal (na Câmara); só não faço nesse momento (demissões) para não atingir a candidatura do Geraldo"."
A destinatária do Ofício 1.054, em papel timbrado da Câmara, foi a promotora de Justiça substituta, Daniela Rangel Cunha.
Os vereadores - entre eles Myriam Alckmin, sobrinha do governador, hoje vice-prefeita - informam ao Ministério Público que "tomaram conhecimento, por intermédio do vice-prefeito João Bosco Nogueira, sobre esquema de corrupção envolvendo secretários da prefeitura com diversas empresas que prestam serviços".
Em três tópicos, os vereadores resumem relato que ouviram de Nogueira - prefeito em dois mandatos. O primeiro capítulo diz: "No mês de outubro de 2006, ele (vice-prefeito) esteve na casa do sr. prefeito e lá estava presente o sr. Manoel César Ribeiro Filho, diretor de Habitação, quando relatou que tinha provas e o sr. prefeito falou que as providências seriam tomadas com relação ao possível esquema de corrupção envolvendo a prefeitura."
Provas. O segundo item cita o nome de um dos alvos do Ministério Público: "(O vice-prefeito) relatou que tudo isso foi comentado com o sr. prefeito, o qual falou que até o dia 30 de outubro, após as eleições, seriam tomadas as providências, ou seja, demitir o secretário Silvio Serrano (Finanças) e toda a sua equipe."
O terceiro ponto da carta: "Disse também que, se caso o prefeito não tomasse nenhuma providência, ele mesmo (Nogueira)o faria e apresentaria as provas relacionadas."
Passada a eleição, Alckmin derrotado, Serrano foi mantido na pasta de Finanças. A promotoria apurou que ele foi indicado pelo cunhado do governador.
Bosco Nogueira, o ex-vice, disse que "achou sensato" que providências fossem tomadas após o pleito. "Eu tenho o Geraldo na conta do homem corretíssimo. Mas, depois da eleição, nenhuma medida foi tomada pela prefeitura. Eu entendo que o prefeito ficou refém da quadrilha, deu tremedeira nele. Tomaram tudo de assalto. O chefe da quadrilha é esse Paulão, ele financiou a campanha do João Ribeiro."
A demissão do secretário, enfim, veio quatro anos depois, em outubro de 2010. Pressionado pela investigação da promotoria e questionamentos da Câmara - onde já não tem maioria -, o prefeito exonerou o chefe das Finanças e outros assessores do primeiro escalão. Alegou "transparência da administração".
O governador não se manifesta sobre o escândalo. O Ministério Público não abre informações sobre a investigação, que está sob sigilo. O advogado Gilberto Menin, sócio do Menin Advogados, que defende Paulão, reafirma que seu cliente "não praticou qualquer ato ilícito".