Mais uma política pública do governo do Estado de SP não passa de um projeto piloto, lançado pelo Estado mas "tocado" pelos municípios.
(do Jornal da Tarde)
O Estado de São Paulo só tem uma praia completamente acessível a pessoas que precisam de cadeiras de rodas – a da Enseada, em Bertioga. Nas outras seis cidades que receberam o Programa Praia Acessível, lançado em fevereiro pelo governo do Estado, as cadeiras anfíbias, que têm rodas maiores e permitem cruzar a faixa e flutuar na água, estão subutilizadas.
O programa apareceu como uma alternativa para promover verdadeira acessibilidade às praias do Estado. Mas naufragou. Em alguns casos, rampas são usadas para que se tenha um caminho até a areia e a água. Outra tentativa de promover acessibilidade no litoral foi a criação de plataformas de madeira em Santos. Mas elas não funcionam plenamente, porque frequentemente são cobertas pela areia.
Cadeiras anfíbias em Bertioga
Em Bertioga, houve avanços graças a uma parceria da prefeitura com o Sesc local. Uma tenda com monitores e seis cadeiras especiais atende diariamente das 8h às 15h. Nas outras cidades, o horário é variado, o que também dificulta o acesso. Em São Sebastião, por exemplo, as cadeiras ficam disponíveis nos fins de semana e feriados na Praia Grande (região central). No Guarujá, em Praia Grande e na Ilha Comprida, as cadeiras estão guardadas. Em Santos, um casal de voluntários toca o programa aos domingos, e pede auxílio.
O funcionamento é bem diferente do previsto pela Secretaria Estadual da Pessoa com Deficiência, de terça-feira a domingo. Algumas prefeituras e conselhos municipais de pessoas com deficiência afirmam que o Estado “largou” as cadeiras com os municípios e não repassou a verba para bancar as tendas nas praias, monitores, banheiros químicos.
Segundo Luciano Marques, representante na Baixada Santista do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência, as próprias prefeituras estão se organizando para tentar tocar o projeto. Uma verba superior a R$ 1 milhão foi aprovada para a compra de nove esteiras, uma para cada cidade da Baixada, para facilitar a movimentação das cadeiras.
Portadora de esclerose múltipla há três anos, a jornalista Laís Serrão, de 30, usa cadeiras de rodas e faz fisioterapia na praia. “Gostaria de entrar na água diariamente, mas não posso”, afirma.
Cansado de esperar pela prefeitura do Guarujá, o ex-campeão brasileiro de surf Taiu, de 47 anos, patrocinou a construção de uma prancha com uma poltrona no meio. Vinte anos depois de ficar paraplégico, conseguiu voltar à água. “Foi incrível sentir que estava dentro de uma onda.”
Apesar de elogiar o Guarujá, Taiu critica a falta de acessibilidade às praias. “As cadeiras especiais não estão sendo usadas. Falta investimento em infraestrutura.