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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Censura da imprensa e coação de servidores públicos: governo de SP busca esconder crise no Metrô

/ On : quarta-feira, novembro 03, 2010 - Contribua com o Transparência São Paulo; envie seu artigo ou sugestão para o email: transparenciasaopaulo@gmail.com

Governador e Instituto de Criminalística negam conclusão do laudo sobre pane no Metrô em SP

Arthur Guimarães
Do UOL Notícias
Em São Paulo
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) afirmou na tarde desta quarta-feira (3) que o laudo sobre as causas da pane na Linha 3-Vermelha do Metrô no dia 21 de setembro ainda não foi concluído pelo Instituto de Criminalística (IC). Segundo o órgão, a paralisação que prejudicou 250 mil pessoas e obrigou usuários a quebrar janelas e andar nos trilhos está sendo analisada pelos peritos do IC.
Como informou o jornal "O Estado de S. Paulo" hoje, com base em informações extraoficiais e em supostas declarações do governador de São Paulo Alberto Goldman, “o laudo detalha que a superlotação de uma das composições próximo da estação Sé fez um equipamento --denominado micro switch-- emitir o sinal de porta aberta, para impedir o condutor de movimentar o trem”.
A reportagem afirma que esse aparelho deve impedir que a composição saia de portas abertas, mas também pode ser ativado se as folhas da porta forem pressionadas pelos corpos dos passageiros. “Como o trem estava superlotado, a porta foi realmente pressionada, o que acionou o sinal”, afirmou o jornal.
Tal notícia derrubaria a tese de sabotagem, ventilada no dia da pane e nos dias seguintes ao fato por autoridades paulistas e diretores do Metrô. Na ocasião, em plena campanha eleitoral, Goldman disse em entrevista gravada que “alguém colocou uma camisa” na porta, suposição confirmada pelo diretor de operações do Metrô, Conrado Grava de Souza. O vandalismo teria como objetivo provocar um caos em um sistema operado pelo Estado, prejudicando a imagem eleitoral do então candidato e ex-governador José Serra (PSDB).
Hoje, em uma coletiva no Palácio dos Bandeirantes, o próprio governador disse que tal laudo “pode ser que venha a existir”. Atualmente, no entanto, não há confirmação sobre os resultados da perícia do IC. “Até hoje, nem eu conheço, nem o secretário de Segurança Pública. Se existe, nós não temos conhecimento. Até agora, para nós, esse laudo não existe. Não sei de onde veio a notícia”,  insistiu Goldman.
Problema antigo
Apesar da indefinição sobre a causa da pane, entidades representativas dos metroviários sustentam que a superlotação é, de fato, a explicação mais ponderável para o episódio.

Falando em nome da Associação dos Operadores de Trens (AOT), um operador com 19 anos de experiência, que atualmente comanda composições na Linha 3- Vermelha, disse que é “frequente” a ocorrência de incidentes como os vividos no dia 21 de setembro.
Como ele explicou, os trens que chegam à estação Sé no sentido Barra Funda sempre encontram uma curva inclinada à direita. “Os passageiros sempre acabam sendo jogados um pouco para o lado direito”, diz. Nos horários de pico, o embarque o desembarque na Sé é demorado, o que faz com que os trens que estão na fila para chegar na plataforma esperem sobre a inclinação. “O peso de tanta gente recai na porta, que cede e acusa uma abertura”, argumentou o operador, que não quis se identificar por temer represálias da companhia.
Quando isso acontece, é emitido um sinal de aviso, informando que determinada porta pode estar aberta, obrigando o responsável pela composição a ir até o local verificar se há alguma irregularidade. Foi nesse meio tempo, segundo o operador, que as pessoas, “por sobrevivência naquele calor”, começaram a se desesperar e acionaram os botões de emergência para abertura das portas, além de quebrar as janelas.
Flavio Godoy, diretor do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, também concorda com a tese. Segundo ele, a inclinação na chegada da Sé é conhecida de todos os operadores e, “muitas vezes”, provoca situações parecidas no trecho. “Não é de hoje. É um problema antigo, que o Metrô tem conhecimento. E pode se repetir com tranquilidade”, afirmou o sindicalista, que não comanda trens, mas diz ter conhecimento do assunto por ser supervisor de estação “há 30 anos”.
Godoy também criticou a postura do governo no episódio. Segundo ele, Goldman tentou dar uma conotação política ao problema. “É ruim. A pessoa fala uma coisa e depois é obrigada a se retratar. Problemas desse tipo têm causas bem mais sérias e que não podem ser esquecidas”, disse o diretor do sindicato.
Outro lado
Em nota, o Metrô afirmou que "não recebeu cópia do laudo produzido pelo IC" e que, portanto, "não pode se pronunciar sobre o assunto". O delegado que conduz o inquérito sobre o problema no dia 21 de setembro, Valdir de Oliveira Rosa, informou que ainda não teve acesso ao laudo mencionado pela reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo". Ele afirmou ainda que não irá conceder entrevista até encerrar o inquérito, o que não tem data para acontecer.

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