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quarta-feira, 2 de junho de 2010

Vítimas de enchentes do Jardim Pantanal: uma só casa abriga 15 famílias

/ On : quarta-feira, junho 02, 2010 - Contribua com o Transparência São Paulo; envie seu artigo ou sugestão para o email: transparenciasaopaulo@gmail.com

Rede Brasil Atual

Depois de sucessivas enchentes e de serem desalojadas de ocupação, 30 pessoas dividem uma casa de dois cômodos, em condições precárias

Os blocos à vista, sem reboco, dos dois cômodos da casa de dona Ana, no Jardim Pantanal, são a guarida de 15 famílias. Em meio à precariedade do pequeno espaço e dos poucos recursos, oito crianças e 22 adultos, além de três cães e dois gatos vivem na casa da enfermeira Ana Silveira. 
As 15 famílias perderam móveis e casas nas sucessivas enchentes que atingiram o Jardim Pantanal desde dezembro de 2009. No fim de maio, passaram por uma nova perda, quando foram despejadas da ocupação que iniciaram um mês antes, na Vila Curuçá. O terreno, em processo de desapropriação pela prefeitura de São Paulo, era a esperança de um novo recomeço para 80 famílias. Entretanto, os donos obtiveram na Justiça a reintegração de posse do local  e as famílias foram obrigadas a se retirarem.
A própria Ana, que decidiu abrigar as 15 famílias depois da desocupação na Vila Curuçá,  também foi vítima da primeira enchente no bairro, em dezembro de 2009. "Tudo aqui é doação das pessoas, só a mesa se salvou da chuva", descreve. Mas, ensina que é preciso recomeçar. "Quando minha casa foi atingida, fiquei três dias sozinha lá dentro, sem saber o que fazer. Meus vizinhos me socorreram, e me deram o que comer. Agora sou eu que posso ajudar", ensina.
Enquanto as crianças correm pela casa, os cães de estimação, ainda filhotes, "Sem-teto", "Terra Livre" e "Neguinha" brincam em cima dos colchões na cozinha, que também é quarto e sala. Na cadeira, dois gatinhos pretos também brincam sem cerimônia. 
No chão, os colchões convivem com pia, fogão, geladeira, mesa, louça, cadeiras e um televisor. Sem armários, as louças, potes plásticos e panelas ficam empilhados debaixo da pia ou pendurados nas paredes. Nos dois cômodos de chão de cimento, as famílias se organizam para descansar à noite e se alimentarem durante o dia.
Um barracão, construído com lona e vários pedaços de madeira, amplia um pouco o espaço de convívio das dezenas de pessoas que se alojaram na casa de Ana. A maioria delas, sem emprego formal, sai durante o dia para fazer "bicos" e retorna à noite.
Onde foi o quarto de Ana, Marcela, mãe de duas crianças e da bebê Jasmim - de três meses - utilizava a cama da dona da casa para amamentar a filha, quando a reportagem chegou. A jovem mãe contou o drama que viveu quando das inundações que aconteceram no bairro.
Ela afirma que perdeu a casa, demolida pela prefeitura. Marcela diz que, no início de abril, saiu com o marido pela manhã para procurar emprego e, quando voltou, encontrou os móveis para fora e a casa no chão. "Derrubaram a casa de muita gente. Deu desespero, porque não tinha pra onde ir", lembra.
Naquela noite, ela deixou os filhos na casa de conhecidos e passou a noite caminhando sem destino com o marido. Depois, passou alguns dias com a irmã até ir para a ocupação na Vila Curuçá. "Nossa esperança era a ocupação ou a ajuda da prefeitura. Nós não recebemos bolsa-aluguel", cita.
Desalojados do terreno e novamente sem destino, Marcela, os filhos e o marido foram para a casa de Ana. "Eram as famílias que não tinham para onde ir. Iam ficar na rua?", indaga Ana.

Parada cardíaca

Marcos Paulo corre pelo quintal e faz bagunça com os coleguinhas. Parece feliz no dia de seu aniversário de cinco anos. A mãe, Janaína, fala pouco e caminha de cabeça baixa. Ela sofre de depressão desde que Marcos teve duas paradas cardíacas, ao ver a inundação tomar conta da casa da família, em dezembro passado.
Ana avisa: "ela chora a qualquer momento". E não demora, Janaína abaixa a cabeça e as lágrimas correm. "Eu nem gosto de falar", acentua.
Os colegas explicam que o piso da casa de Janaína cedeu depois da inundação. O filho teria visto a água tomar conta da casa e, assustado, desmaiou. Mais tarde, soube-se que ele teve as paradas cardíacas, porque tem sopro no coração.
Levantando a cabeça, Janaína explica: "Ele disse para a médica: eu acordei e o chão da minha casa tava caindo. Pensei que ia morrer". "Agora, ele 'tá' na psicóloga e o outro [filho] 'tá 'com o corpo cheio de ferida. A minha casa 'tá' rachada, não dá pra voltar lá", lamenta.

Separação 
Sebastiana aderiu ao bolsa-aluguel da prefeitura, depois que ficou "com água no peito", durante uma das enchentes que atingiu o Jardim Pantanal e bairros da região do distrito do Jardim Helena.
O marido não estava em casa quando ela tomou a decisão de abrir mão da residência e aceitar o auxílio da prefeitura de R$ 300 por seis meses, em troca da autorização de demolição de sua residência.
Quando chegou em casa e soube da notícia, o marido não aceitou a decisão de Sebastiana. "Ele não gostou e me mandou embora, aí fui para a ocupação e depois vim pra cá", relata, envergonhada. "A enchente despejou nós daqui e a prefeitura despejou de lá", reforça.
Há doze dias ela dorme no chão da casa de Ana. "A gente reveza, dorme de um jeito, depois de outro", explica.

Desordem 
Genilda de 22 anos também mora com Ana. Ela, o marido, e três filhos, entre eles uma bebê de cinco meses, também tiveram a casa atingida por enchente. Na mesma casa está também dona Lázara, de 73 anos, quietinha em uma cadeira.

Parte das roupas das pessoas fica em estantes e guarda-roupas encostados nas paredes. Outra parte das roupas, móveis e objetos fica no quintal de uma vizinha, a duas quadras de distância.
Silvileide e o marido não têm filhos e também não têm casa. Perderam os bens na chuva de fevereiro.
Entre os desabrigados, há quem foi vítima de inundação em dezembro, outros em janeiro e ainda outros que perderam tudo em fevereiro. Durante vários meses, o bairro passou por sucessivas enchentes. Para a maioria dos moradores ouvidos pela reportagem, não foi uma simples cheia. O que eles costumam chamar de "ataque", "desordem" ou "maldade" teria sido resultado do fechamento da barragem da Penha e da abertura da barragem de Mogi das Cruzes.
O fechamento das comportas da Penha aumentou o fluxo de água antes da barragem  e causou a inundação de diversos bairros de São Paulo, além de atingir cidades de Grande São Paulo, como Guarulhos e Itaquaquecetuba.
"Naquela chuva forte, fecharam seis comportas da barragem da Penha pra não alagar a marginal. Aí, no fim, alagou a marginal e nós quase morremos afogados aqui também", analisa o aposentado Jair Ribeiro, morador de outro bairro atingido, o Jardim Romano.
A Promotoria de Direitos Humanos apura se as enchentes foram provocadas ou naturais.

Parque 
Outra reclamação recorrente dos moradores é a retirada das famílias, pela prefeitura de São Paulo, para a construção do Parque Linear Várzeas do Tietê. "É só aqui que um parque vale mais que vidas humanas", acusa Sebastiana.
"O que mata é a indignação com o governo. Estão tratando o ser humano como lixo", dispara a dona da casa. "Por que a USP, a (fábrica da empresa) Bauducco podem ficar na beira do rio e os moradores não?", indigna-se.
Segundo os moradores, a instalação do parque, anunciado pela prefeitura há uma semana, vai causar a retirada de milhares de famílias. "Minha casa 'tá' longe do rio, mas dizem que tenho que sair. Querem todo o Jardim Pantanal", diz Ana. Mas, ela avisa: "Não vamos sair até o último segundo".
Mesmo depois de enchentes, perdas e doenças, as famílias abrigadas pela enfermeira Ana, persistem no sonho de voltar a viver no Jardim Pantanal. "As famílias estão cadastradas na subprefeitura. Estamos lutando para que possam seguir a vida cada um em sua casa novamente", incentiva Ana.

Reportagem: Suzana Vier www.redebrasilatual.com.br

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