extraído do Blog do Imbroglione
O jornalista Renato Santana, do jornal Tribuna de Santos, está sofrendo ameaças de criminosos e enfrentando pressões do Ministério Público regional da Baixada Santista, em São Paulo, depois de publicar uma série de reportagens mostrando a operação de grupos de extermínio na região,
As matérias, veiculadas de 25 a 29 de abril, afirmam que policiais estão envolvidos em diversas chacinas, e acusam o Ministério Público de se omitir na apuração das denúncias. Numa audiência pública, um promotor chegou a dizer que, se o repórter realmente entrevistou policiais que atuaram no grupo, deveria levá-los para prestar depoimento, relata Santana.
O sindicato publicou uma nota repudiando a atuação do Ministério Público e exigindo que as autoridades protejam o jornalista.
Eis a nota do sindicato:
O jornalista Renato Santana, de A Tribuna de Santos, além de sofrer ameaças, também está enfrentando pressões do Ministério Público regional da Baixada Santista. O motivo é a série de reportagens escrita por ele que mostraram a existência de grupos de extermínio na Baixada Santista. Nas matérias, o jornalista comprovou que policiais, utilizando toucas “ninjas” fazem justiça com as próprias mãos e estão envolvidos em várias chacinas, além de relatar que o Ministério Público se omitiu na apuração das denúncias.
Abaixo, a íntegra do documento de solidariedade assinado pelas Mães de Maio da Baixada Santista sobre o assunto, com a qual o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo se une e se solidariza:
“Nós, Mães e Familiares das Vítimas do Estado Brasileiro, escrevemos aqui na sequência de uma grande jornada de Lutas para manifestar nosso total apoio e solidariedade ao sério e competente jornalista Renato Santana, do jornal A Tribuna de Santos-SP.
Renato foi responsável recentemente, junto aos editores e à redação d’A Tribuna, pela publicação de uma das mais importantes e consistentes séries jornalísticas dos últimos tempos no Brasil, abordando os “4 Anos dos Crimes de Maio” (série publicada entre 25 e 29 de Abril de 2010). Iniciada no dia 25, a sequência de 5 longas reportagens, somada a várias outras suítes e registros, marcou a história do jornalismo investigativo e relacionado à temática dos Direitos Humanos no Brasil.
Dentre algumas de suas conquistas, além da retomada de uma temática central para toda a sociedade brasileira (o maior massacre do período democrático brasileiro), as reportagens ainda conseguiram localizar e entrevistar alguns dos agentes de grupos paramilitares de extermínio (publicando-as sob a utilização de codinomes, conforme garante a legislação específica do jornalismo), revelando à sociedade todo o modus operandi pelo qual eles têm atuado, ao menos, desde 2006. Dessa maneira, além de avançar no esclarecimento deste tipo de prática, certamente contribuiu de forma direta para a interrupção das execuções sumárias em massa que voltaram a atingir toda a região da Baixada Santista em abril/maio de 2010.
A série de matérias, com farta apresentação de provas e documentos, veio a comprovar algo que as Mães de Maio e tantos outros movimentos sociais e militantes de DH denunciavam há anos: faltou seriedade e persistência nas investigações e punições dos responsáveis pelos Crimes de Maio de 2006, os grupos paramilitares de extermínio ligados à Polícia, que seguiram e seguem agindo da mesma maneira há anos. Conforme pode-se conferir abaixo o teor de algumas das matérias, somadas ao desenrolar das pressões políticas e o aprofundamento de investigações, temos certeza de que tal trabalho jornalístico crítico e sério, juntamente com a Luta das Mães e demais militantes dos Direitos Humanos, realmente poupou inúmeras vidas na Baixada Santista e em todo o estado de São Paulo. Ainda há muito o quê avançar, é certo: sobretudo no que tange o Desarquivamento e a Federalização das investigações dos Crimes. As matérias, por outro lado, também reforçam com clareza os indícios de que o recurso “Resistência Seguida de Morte” (assim como o “Auto de Resistência”), assinalado nos laudos de jovens assassinados pela polícia, tem servido para legitimar um tipo de prática de extermínio, uma artimanha jurídica para facilitar a continuidade de um verdadeiro estado de sítio contra jovens pobres e negros nas periferias das grandes cidades do país.
No entanto, para a nossa revolta – mas não para a nossa surpresa -, o jornalista Renato Santana e o próprio jornal A Tribuna vêm recebendo uma série de críticas e ameaças por parte do mesmo Ministério Público regional da Baixada Santista que se omitiu nas investigações, bem como de alguns setores reacionários ligados à polícia do estado de São Paulo. Com o objetivo de intimidá-los (o jornalista e o jornal), ambos têm sofrido represálias e ameaças de que estariam fazendo “apologia ao crime” e/ou coisas afins – conforme está inclusive documentado no vídeo da Audiência Pública realizada no dia 14/05/2010 em Santos-SP.
Nós, Mães de Maio, nos perguntamos: quem é que está fazendo apologia a práticas criminosas e assassinas, e a desvios de condutas que se tornaram regras entre os agentes do estado e os grupos paramilitares de extermínio associados a eles? Por que tentar intimidar e interromper um trabalho jornalístico tão sério e corajoso, cujos frutos estão aí para quem quiser ver?
Desde já anunciamos enfaticamente que tanto o jornalista Renato Santana, quanto o jornal A Tribuna, têm e terão todo nosso apoio e solidariedade no que tange a este sério e importantíssimo trabalho jornalístico que já marcou a história da imprensa brasileira contemporânea – aliás, uma imprensa que raramente ousa fazer este tipo de trabalho com qualidade. Deveremos apoiá-los, inclusive, para que ganhem todos os prêmios possíveis relacionados à prática do jornalismo sério e ligado à temática dos Direitos Humanos, como o Prêmio Vladimir Herzog.
Pautamos e convocamos a todos os jornalistas e orgãos de imprensa que façam jus a este nome, que também se solidarizem e denunciem estas tentativas de cerceamento de um trabalho legítimo e extremamente qualificado, que tem contribuído para fortalecer os Direitos Humanos no estado de São Paulo e no Brasil. Não é possível ficarmos calados diante deste tipo de cerceamento que, na verdade, configura tentativa de censura da pior maneira possível.
Seguiremos atentas a qualquer tipo de intimidação e pressão no sentido contrário à Memória, à Verdade e à Justiça: prontas a manifestar toda nossa solidariedade, apoio, e agir de maneira prática, por meio da luta política, com o objetivo de defender todos e todas aquelas que lutam por estes ideais de Liberdade!”
O Sindicato dos Jornalistas não poderia deixar de prestar solidariedade ao companheiro Renato Santana e exigir das autoridades que preservem a integridade do jornalista, além de repudiar a atuação do Ministério Público da Baixada Santista que no desvio de suas funções institucionais, pressiona e intimida o profissional e a empresa na qual ele exerce suas atividades profissionais.