por Mauricio Dias
extraído da Carta Capital
A dificuldade encontrada pelo ex-governador José Serra para entoar um discurso oposicionista convincente está forçando a criação de uma farsa, desde já, na campanha da sucessão presidencial.
extraído da Carta Capital
A dificuldade encontrada pelo ex-governador José Serra para entoar um discurso oposicionista convincente está forçando a criação de uma farsa, desde já, na campanha da sucessão presidencial.
Serra é um pragmático. Esquivou-se, em 2002, do papel de candidato governista. Isso porque o então presidente Fernando Henrique Cardoso estava crucificado pela rejeição do eleitorado. Agora, em 2010, foge de novo das circunstâncias políticas e recusa a se expressar como candidato de oposição. Mas governista é a adversária dele, Dilma Rousseff, candidata de Lula, cujo governo, nos últimos meses de existência, mantém uma aprovação que gira em torno de 80%.
Foi por isso que Dilma já chamou seu adversário de “biruta de aeroporto”. Biruta é aquele instrumento de orientação dos aviadores, que, nos campos de pouso interioranos, aponta para onde vento sopra. Serra, ardilosamente, ora critica, ora aplaude a administração petista.
Esse discurso ambíguo tem confundido até mesmo figuras ilustres, como Chico Buarque, que sempre deu apoio público a Lula. “Vou votar na Dilma porque é a candidata do Lula e eu gosto do Lula. Mas a Dilma ou o Serra, não haveria muita diferença”, anunciou ele. Isso é tudo o que a oposição quer fazer crer. A diferença entre a candidata do PT e o candidato do PSDB vai muito além do gênero antropológico.
A versão oposicionista tenta prevalecer sobre os fatos. Dilma e Serra, antigos militantes da esquerda, hoje atuam dentro de moldura política diferenciada e são comprometidos com circunstâncias partidárias também diferentes. A petista se manteve no âmbito da esquerda.
Inicialmente no PDT e, posteriormente, no PT. O tucano filiou-se inicialmente no MDB, antecessor do PMDB e, em seguida, ajudou a fundar o PSDB. O PT fez uma inflexão para a centro-esquerda e o PSDB, nascido da costela do PMDB, tem, hoje, uma nítida coloração de centro-direita.
O governo FHC é um retrato do que isso pode significar. No primeiro mandato, cumpriu rigorosamente os compromissos com a pauta neoliberal, promovendo um amplo programa de privatização, do qual a Petrobras e o Banco do Brasil só escaparam por reação da sociedade. Lula, no governo, freou esse programa e estabeleceu políticas que projetam o que poderá ser a diferença do governo Dilma do governo Serra. Alguns exemplos:
1. A atuação do Estado como indutor da economia.
2. O fortalecimento do Mercosul.
3. Política externa sem alinhamento automático com os Estados Unidos.
4. Aproximação com os países da América Latina e África.
Mesmo na área social há diferenças evidentes entre FHC e Lula. No primeiro ano do governo tucano (1995), o gasto social federal foi de 80 milhões de reais. No último ano (2002), os gastos atingiram 170 milhões. Lula no primeiro ano de governo (2003) elevou esses gastos sociais para 191 milhões de reais. Em 2007, últimos números de que este colunista dispõe, havia uma projeção final de gastos sociais da ordem de 390 milhões.