Onda de crimes na Baixada Santista repete maio de 2006, diz ativista
Representante de organização das Mães de Maio acusa policiais de formarem grupos de extermínio na região. "Se tivessem escutado a gente há quatro anos, essas vidas não teriam sido ceifadas agora", lamenta.
Publicado em 28/04/2010, 16:25
São Paulo - A onda de homicídios na Baixada Santista desde a última semana repete o modus operandi das ações de maio de 2006. Segundo Débora Maria da Silva, mãe de uma das vítimas da repressão policial e ativista das Mães de Maio, a violência permanece na região e não é recente. A ativista acusa policiais a paisana, organizados em grupos de extermínio, de estarem por trás dos assassinatos.
Desde a última semana, casos de homicídio atribuídos ao tráfico de drogas chamam a atenção de todo o país. Foram 23 assassinatos em cidades do litoral paulista e outras 12 foram feridas a bala. A maioria é jovem sem antecedente criminal. Parte dos crimes foi praticada por pessoas encapuzadas, utilizando motos e armamentos de alto calibre.
Para Débora, os prefeitos da Baixada Santista foram omissos em relação ao tema, e nunca prestaram qualquer forma de apoio às mães de vítimas de maio. Agora, diz ela, saem em defesa da região, dizendo que não tem violência. "Tem sim, são cidades taxadas como mais violentas em taxas de homicídio", dispara. "Se tivessem escutado a gente há quatro anos, essas vidas não teriam sido ceifadas agora", lamenta.
"Cada grito de uma mãe, cada jovem que cai, é como se nós estivéssemos gritando e nossos filhos estivessem no chão", sustenta. Ela considera que a prática de grupos de extermínio formados por policiais que se arvoram de justiceiros para promover execuções sumárias é uma realidade que se arrasta desde o período da ditadura militar.
O procurador do estado, Antonio Mafezzoli, acusou ontem o governo de Alberto Goldman (PSDB) de se omitir na investigação sobre a matança de jovens na Baixada Santista. Em entrevista ao Brasília Confidencial, o procurador também associa os casos aos de maio de 2006. Na ocasião, pelo menos nove pessoas foram mortas na região em represália da polícia a ataques da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
"Há uma grave omissão do Estado, complacente com este tipo de procedimento", acusou Mafezzoli. "A violência atingiu de novo um grau desproporcional, sem que a polícia tomasse qualquer providência para apurar a autoria dos crimes. O serviço de inteligência da Polícia Civil já deveria estar levantando a identidade dos autores, que não podem ficar impunes”, reclamou.
A Secretaria de Segurança Pública do estado de São Paulo anunciou, nesta quarta-feira (28), que pretende ampliar a presença da Polícia Militar na região. A alegação para o deslocamento, porém, é que se trata de um deslocamento normal para um período de feriado, como o próximo sábado (1º/05).