Ricardo Kotscho
Continua a trágica rotina da impunidade no trânsito em São Paulo: o sujeito enche a cara, sai com o carrão, mata gente e vai preso em flagrante. Recusa-se a fazer o teste do bafômetro. No dia seguinte, paga uma fiança e está livre para matar de novo. Até quando?
Só nos últimos quatro meses, foram seis casos pelo menos que seguiram o mesmo enredo descrito acima. Até quando?
Enquanto isso, os juízes e os parlamentares ficam discutindo se é crime doloso (com intenção de matar) ou culposo (sem intenção de matar), ou seja, se o assassino deve ir em cana ou ficar em liberdade.
Resultado: 35 mil brasileiros morrem por ano em acidentes de trânsito, mais do que os que tombaram na guerra civil da Líbia ou nos conflitos no Oriente Médio este ano.
Quanto valem estas vidas? De acordo com a Justiça de São Paulo, que estabeleceu as últimas fianças para libertar os matadores, o valor varia conforme o magistrado.
Na segunda-feira, a Justiça estabeleceu uma fiança de R$ 50 mil e mandou soltar o gerente de banco Fernando Mirabelli, que ao volante de uma Hilux atropelou e matou dois garis e deixou outro gravemente ferido, na Marginal Pinheiros, no último final de semana.
Preso em flagrante, o motorista foi indiciado sob suspeita de embriaguez ao volante, tentativa de fuga do local do acidente e homicídio doloso ao assumir o risco de matar.
Dentro do seu bólido a polícia encontrou duas garrafas de uísque vazias e latas de cerveja. Como de costume, já que a lei não o obriga, Mirabelli simplesmente se recusou a fazer o teste do bafômetro. Apesar de todas as provas do crime, o motorista já está solto por ordem da Justiça.
Em julho, saiu mais cara a liberdade para o motorista de um Porsche que matou uma advogada: pagou R$ 300 mil de fiança.
No mesmo mês, o dono da Land Rover que matou um jovem na calçada na Vila Madalena foi solto sem pagar nada.
Em setembro, também ganhou a liberdade sem precisar pagar fiança o motorista que atropelou e matou mãe e filha na calçada do shopping Villa-Lobos, na zona oeste da cidade.
Para o jovem do Camaro que bateu em seis carros e matou uma pessoa, também em setembro, a lambança custou R$ 245 mil.
Agora em outubro, o sujeito que atropelou três pessoas na avenida Juscelino Kubitschek gastou R$ 54,5 mil para responder ao processo em liberdade.
O que estes casos tristemente nos ensinam é que se o motorista embriagado tem dinheiro para pagar bons advogados e a possível fiança, pode sair matando por aí que não terá maiores problemas. Belos exemplos.
Os leitores por acaso conhecem alguém condenado e preso por dirigir bêbado e matar outro alguém?