(do Poder Online)
Os próximos rounds da luta declarada pelo prefeito Gilberto Kassab a seus adversários promete momentos de revelações e deve ocorrer, na avaliação de políticos paulistas, na campanha eleitoral do ano que vem.
De acordo com testemunhas do primeiro destempero público do prefeito Gilberto Kassab, revelado por Poder Online e ocorrido no dia 23 de maio, nas Faculdades Metropolitanas Unidas, durante palestra sobre bullying, ele travou o seguinte diálogo com o deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP):
- Eu vou quebrar o seu pescoço, o do [Geraldo] Alckmin, do Alexandre [Moraes] e o do Rodrigo [Garcia].
- O que é isso Kassab ? – teria dito Chalita, surpreso com a agressividade do prefeito.
- Tá tudo grampeado – respondeu Kassab.
- Grampeado o quê? Você está me ameaçando? – devolveu o deputado.
Dali pra frente foi Kassab acusando Chalita de fazer e acontecer contra ele e Chalita dizendo que nunca tinha feito nada. Aí o ministro Marco Aurélio Mello, do STF, que mediaria o debate sobre bullying, chamou os dois para começar o evento.
E mais.
No diálogo, se é que a definição seja esta, de quarta-feira, no gabinete do secretário de Desenvolvimento Social, Rodrigo Garcia, Kassab ameaçou:
- Eu sei seus podres.
E ouviu:
- Se eu tenho podres foram feitos ao seu lado.
Muita gente ouviu também. Chalita e Rodrigo Garcia preferiram não comentar os fatos. Alckmin também, de acordo com sua assessoria, calou-se.
SP mantém contrato com firma ‘anti escuta’
(do Jornal da Tarde, por Fernando Gallo)
O governo paulista mantém há três anos contrato com uma empresa que, segundo seu dono, faz “contrainformação” e “varreduras” contra escutas telefônicas na Companhia de Processamento de Dados do Estado (Prodesp), que gerencia toda a rede de dados da administração estadual.
A Fence Consultoria Empresarial Ltda. foi contratada em julho de 2008, na gestão do ex-governador José Serra (PSDB), e segue atuando no governo do tucano Geraldo Alckmin. A Prodesp informou que a Fence presta “serviços técnicos especializados em segurança de comunicações em sistemas de telefonia fixa” nos “ambientes internos e externos”.
A contratação se deu sem licitação porque a Prodesp avaliou tratar-se da única empresa no mercado que atendia a todas as suas necessidades. Segundo o contrato firmado, a Prodesp pode “requisitar a execução dos trabalhos em instalações de seu interesse, fora de sua sede (sic)”.
No dia 19 de agosto, o contrato foi prorrogado por mais 12 meses pelo mesmo valor anual: R$ 858,6 mil. Isso significa que o governo já pagou até agora R$ 2,6 milhões à Fence. O negócio prevê ainda a realização de “serviços emergenciais”, pelos quais o governo pagaria R$ 2 mil por visita.
Questionada pela reportagem, a Prodesp afirmou que nunca foi necessário nenhum serviço de emergência, nem fora de sua sede. Sobre valores, a Prodesp informou que, desde julho de 2008, paga mensalmente à Fence R$ 69,1 mil, o que totaliza R$ 829,4 mil.
Empresa polêmica
A Fence foi motivo de polêmica na eleição presidencial de 2002, quando integrantes do então PFL – atual DEM – atribuíram a uma escuta clandestina feita pela firma a origem da operação da Polícia Federal que descobriu R$ 1,4 milhão no cofre da empresa Lunus, de propriedade de Jorge Murad, marido da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, hoje no PMDB. O dinheiro era supostamente destinado à campanha presidencial dela naquele ano. A Fence fora contratada pelo Ministério da Saúde na gestão de Serra, que também foi candidato na ocasião.
O dono da Fence, Ênio Gomes Fontenelle, é coronel reformado do Exército e foi chefe da área de comunicações do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI), órgão de inteligência que operou na ditadura militar e foi substituído pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Em 1993, Fontenelle se aposentou e montou a Fence, que já prestou serviços para outros órgãos públicos, como o Superior Tribunal de Justiça.
‘Só monitoramento’
Em nota, a Prodesp afirmou que “somente monitora suas linhas telefônicas e não tem acesso a linhas ou centrais telefônicas de qualquer outro órgão da administração pública em geral, sejam seus clientes ou não”. Alckmin e Serra não se manifestaram.
Já Fontenelle, dono da Fence, disse que sua empresa trabalha para detectar escutas clandestinas em telefones ou ambientes. “Faz contrainformação, varredura”. Ele disse ainda conhecer Serra “há muitos anos”.